Lutas sociais, políticas e ideologias linguísticas – o caso da linguagem neutra

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i1p125-145

Palavras-chave:

Esferas ideológicas, Ideologia do cotidiano, Círculo de Bakhtin, Mídias híbridas, Ideologias linguísticas

Resumo

Com o objetivo de explorar potencialidades teóricas e analíticas da articulação de proposições inscritas na concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin com os estudos de políticas linguísticas desenvolvidos por Bernard Spolsky, este artigo focaliza os embates sobre a chamada linguagem neutra no Brasil atentando em especial para as ideologias linguísticas, entendidas, nos termos da articulação aqui proposta, como ideias, valores e crenças sobre a língua materializadas na produção sígnica e enunciativa em esferas ideológicas e na comunicação da vida cotidiana. Levando em conta enunciados em circulação nos últimos anos, a argumentação assinala, como uma de suas possíveis conclusões, que, subsumidos pela arquitetura sociotécnica de sistemas de mídias híbridas organizadas segundo ditames de uma economia da atenção, da visibilidade e da adesão, os debates sobre a linguagem neutra, ao tempo em que promovem problematizações e questionamentos críticos, também propiciam a retomada e o reforço de ideologias e crenças discursivamente (re)formuladas e distribuídas com base em uma lógica de dogmatismo e lacração.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Luiz Rosalvo Costa, Universidade Federal de Sergipe

    Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, Brasil (2014). Professor Adjunto na Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

  • Raiane Almeida Santos, Universidade Federal de Sergipe

    Graduada em Letras (Português) pela Universidade Federal de Sergipe, Brasil.

Referências

BAGNO, M. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2000.

BAKHTIN, M. [1929] Problemas da obra de Dostoiévski. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2022.

BAKHTIN, M. [1952-1953] Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Tradução do russo de Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 261-306.

BAKHTIN, M. [1934-35] A teoria do romance I – A estilística. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015.

BAKHTIN, M. [1952-53] Os gêneros do discurso. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.

BARBOSA FILHO, F. R. Projetos de lei contrários à ‘linguagem neutra’ no Brasil. In: BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (orgs.). Linguagem “neutra”. Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022, p. 141-160.

BENTES, A. C.; CRUZ, R. C.; MENDES, C. J. G. Feminismo, mídias digitais e linguagem inclusiva. In: BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (orgs.). Linguagem “neutra”. Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022, p. 95-118.

BLOMMAERT, J. Political discourse in post digital societies. Campinas: Trab. Ling. Aplic., n. 59.1 p. 390-403, jan./abr. 2020.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Acórdão na Ação Direta de Inconstitucionalidade 7.019, Brasília, 13 fev 2023.

CARVALHO, D. S. As genitálias da gramática. Revista da ABRALIN, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 1–21, 2020. DOI: http://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1693.

CARVALHO, D. Quem é êla? A invenção de um pronome não binário. In: BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (orgs.). Linguagem “neutra”. Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022, p. 119-139.

COLÉGIO Dante Alighieri diz que lamenta exibição de vídeo com linguagem neutra em sala de aula. Folha de S. Paulo, 21/3/2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2023/03/colegio-dante-alighieri. Acesso em 31 mar. 2023.

COSTA, L. R. A questão da ideologia no Círculo de Bakhtin e os embates no discurso de divulgação científica da revista Ciência Hoje. São Paulo: Fapesp/Ateliê, 2017.

DANTAS, M. Mais-valia 2.0: produção e apropriação de valor nas redes do capital. Revista Eptic Online, v. 16, n. 2, p. 89-112, mai-ago 2014. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/eptic/article/view/2167. Acesso em: 20 mar. 2025

DELEUZE, G. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, G. Conversações 1972-1990. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1992, p. 219-226.

FISHER, E. Audience labour on social media: learning from Sponsered Stories. In: FISHER, E.; FUCHS, C. (eds.) Reconsidering value and labour in the digital age. Hampshire/UK, Palgrave Macmillan, 2015, p. 115-132.

FREITAG, R. M. K. Conflito de regras e dominância de gênero. In: BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (orgs.). Linguagem “neutra”. Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022, p. 53-71.

FUCHS, C. Midias sociais e a esfera pública. Revista Contratempo, v. 34, n. 3, dez 2015/mar 2016, Niterói: Contratempo, p. 5-80, 2015. Disponível em: https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17552. Acesso em: 20 mar. 2025

GILLESPIE, T. A relevância dos algoritmos. Parágrafo, v. 6, n. 1, p. 95-121, 2018.

GUESPIN, L.; MARCELLESI, J-B. Pour la Glottopolitique, Langages, n. 83, p. 5-34, 1986.

HAN, B.-C. No enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

HAN, B.-C. Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Trad. Gabriel S. Philipson. Petrópolis, RJ: Vozes, 2022.

LAGARES, X. C. Qual política linguística? Desafios glotopolíticos contemporâneos. São Paulo: Parábola, 2018.

LANDRY, R.; BOURHIS, R. Y. Linguistic landscape and ethnolinguistic vitality: an empirical study. Journal of Language and Social Psychology, v. 16, n. 1, p. 23-49, 1997.

LAZZARATO, M. As revoluções do capitalismo. Trad. Leonora Corsini. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

MÄDER, G. R. C. Masculino genérico e sexismo gramatical. 2015. 133 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

MÄDER, G. R. C.; SEVERO, C. G. Sexismo e políticas linguísticas de gênero. In: FREITAG, R. M. K.; SEVERO, C. G.; GÖRSKI, E. M. (orgs.). Sociolinguística e política linguística. Olhares contemporâneos. São Paulo: Blucher, 2016, p. 245-260.

MALY, I. Metapolitics, algorithms and violence – new right activism and terrorism in the attention economy. New York: Routledge, 2024.

MALY, I. Algorithms, interaction and power: A research agenda for digital discourse analysis. Working Papers in Urban Language & Literacies. Tilburg University, 2022, pp. 1-26. Disponível em: https://www.academia.edu/73221593/Algorithms_interaction_and_power_A_research_agenda_for_digital_discourse_analysis. Acesso em: 20 mar. 2025

MALY, I. Ideology and algorithms. Ideology Theory Practice, 2021. Disponível em: https://www.ideology-theory-practice.org/blog/ideology-and-algorithms. Acesso em: 20 mar. 2025

MARAZZI, C. O lugar das meias. A virada linguística da economia e seus efeitos sobre a política. Trad. Paulo Domenech Onero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

MEDVIÉDEV, P. [1928] O método formal nos estudos literários – Introdução crítica a uma poética sociológica. Trad. Ekaterina V. Américo e Sheila C. Grillo. São Paulo: Contexto, 2012.

PAIS de alunos do Dante Alighieri criticam posição do colégio sobre linguagem neutra. Folha de S. Paulo. São Paulo, 23/3/2023. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2023/03/pais-de-alunos. Acesso em: 31 mar. 2023.

PINHEIRO, A.; PINHEIRO, B. Estratégias de neutralização de gênero no Português Brasileiro: questões estruturais e sociais. Cadernos de Linguística, v. 2, n. 1, p. 1-23, 2021. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/326/386. Acesso em: 20 mar. 2025

SCHWINDT, L. C. Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico. Revista da ABRALIN, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 1–23, 2020. DOI: http://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1709.

SEIDEL, V. F. Linguagem não binária e teoria bakhtiniana. In: BARROS, S. M. et alli (orgs.). I EnEpel – Estudos emancipatórios em linguagem – perspectivas críticas. São Paulo: Pá de Palavra, 2021, p. 169-180.

SHOHAMY, E. Language policy – Hidden agendas and new approaches. New York: Routledge, 2006.

SIGNORINI, I.; LUCENA, M. P. Linguagem e economia política em ativismos no twitter sobre o uso de ‘linguagem neutra’. Revista da Abralin, v. 22, n. 1, p. 1-29, 2023. DOI: http://doi.org/10.25189/rabralin.v22i1.2143.

SOUZA, J.; AVELINO, R.; SILVEIRA, S. A. (orgs.) A sociedade de controle. Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018.

SPOLSKY, B. Language Policy – Keytopics in Sociolinguistics. Cambridge: University of Cambridge, 2004.

SPOLSKY, B. Language Management. Cambridge; NY; Melbourne; Madrid; Singapore; SP, Delhi; Dubai; Tokyo: Cambridge University Press, 2009.

SPOLSKY, B. What is language policy? In: SPOLSKY, B. The Cambridge Handbook of Language Policy. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, p. 3-15.

VIRNO, P. A gramática da multidão. Para uma análise das formas de vida contemporânea. Trad. Leonardo Palma Retamoso. São Paulo: Annablume, 2013.

VOLOCHINOV, V. [1927] Freudisme. Essai critique (Le). Publ. Sob o nome de M. Bakhtin . Trad. par Guy Verret. Lausanne: Editions L’Age d’Homme, 1980.

VOLÓCHINOV, V. [1929] Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução do russo de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2017.

ZUBOFF, S. A era do capitalismo de vigilância. A luta por um futuro humano na nnova fronteira do poder. Trad. George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

Downloads

Publicado

24-04-2025

Como Citar

COSTA, Luiz Rosalvo; SANTOS, Raiane Almeida. Lutas sociais, políticas e ideologias linguísticas – o caso da linguagem neutra. Linha D’Água, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 125–145, 2025. DOI: 10.11606/issn.2236-4242.v38i1p125-145. Disponível em: https://revistas.usp.br/linhadagua/article/view/226732.. Acesso em: 12 maio. 2025.