Quem decide o que é “Verdadeiro”? Aos Fatos e os paradoxos do combate à desinformação
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i2p221-239Palabras clave:
Checagem de fatos, Desinformação, Letramento Midiático, Novos Estudos de Letramento, Regimes de VerdadeResumen
Este artigo examina dois documentos institucionais do site da agência de fact-checking “Aos Fatos”, com o objetivo de analisar (i) como a linguagem performa a autoridade da agência e (ii) quais vozes sociais são privilegiadas ou autorizadas em seus discursos. A fundamentação teórico-metodológica do artigo se baseia no Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) (Bronckart, 2006); nos Novos Estudos de Letramento (NEL) (Street; Castanheira, 2014) e Letramento Midiático (Hobbs; Jensen, 2009; Ferreira, 2021); nos estudos sobre desinformação (Komesu; Alexandre; Silva, 2020; Assis; Komesu; Pollet, 2021; Wardle; Derakhshan, 2023) e na concepção de verdade, discutida por Foucault (1996) e por Arendt (2011). De Foucault (1996), toma-se a concepção de “vontade de verdade” como exercício de poder discursivo que orienta a análise de como os critérios de verificação da agência (métricas, selos classificatórios e fontes “idôneas”) constroem uma autoridade que naturaliza certas verdades no espaço público digital. De Arendt (2011), incorpora-se a tese acerca da fragilidade da verdade factual que, por depender de depoimentos e registros, é reduzida a mera opinião em contextos políticos. O artigo utiliza o modelo de análise textual proposto por Bronckart (2006), que articula dimensões linguísticas e discursivas, para verificar de que forma a linguagem da agência performa autoridade, que vozes sociais são privilegiadas e em que condições sociais e históricas essa construção se legitima. Os resultados apresentam pistas de que, embora agências como “Aos Fatos” representem um avanço significativo no combate à desinformação, a sua política editorial revela algumas vulnerabilidades quanto aos critérios de verificação e à autoridade construída discursivamente pela instituição, o que parece apontar para a necessidade de outras estratégias capazes de enfrentar as raízes da crise informacional que ameaça as democracias contemporâneas.
Descargas
Referencias
ANGERMULLER, J. Truth after post-truth: for a Strong Programme in Discourse Studies. Palgrave Communications, [s. l.], v. 4, n. 1, p. 1-8, 2018. Disponível em: www.nature.com/articles/s41599-018-0080-1. Acesso em: 24 set. 2024.
AOS FATOS. Política editorial. Aos Fatos. [s.d.]. Disponível em: https://www.aosfatos.org/politica-editorial/. Acesso em: 16 dez. 2024.
AOS FATOS. Sobre Aos fatos. Aos Fatos. [s.d.]. Disponível em: https://www.aosfatos.org/politica-editorial/. Acesso em: 16 dez. 2024.
ARENDT, H. Verdade e política. In: Entre o passado e o futuro. 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011, p. 282-325.
ASSIS, J. A.; KOMESU, F.; POLLET, M.C. A formação do leitor no contexto da desinformação e das fake news: desafios para os estudos de letramentos na pandemia da Covid-19 e além. Scripta, v. 25, n. 54, p. 9-38, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2021v25n54p9-38.
BBC. ‘Mudança radical’: por que fim de checagem de fake news no Facebook e Instagram aproxima Zuckerberg ainda mais de Trump. BBC News Brasil, [7 jan. 2025]. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4gzn410knvo. Acesso em: 11 fev. 2025.
BRONCKART, J. P. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sociodiscursivo. 2 ed. revista e corrigida. Fortaleza: Parole et Vie, 2023.
BRONCKART, J. P. Os gêneros de texto e os tipos de discurso como formatos das interações propiciadoras de desenvolvimento. In: BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. Anna Rachel Machado, Maria de Lourdes Meirelles Matêncio (org.). Campinas: Mercado de Letras, 2006, p. 121-160.
BUCCI, E. Incerteza, um ensaio: como pensamos a ideia que nos desorienta (e orienta o mundo digital). Belo Horizonte: Autêntica, 2023, p. 105-134.
EUROPEAN COMMISSION. The Strengthened Code of Practice on Disinformation. Brussels: European Commission, 2022. Disponível em: https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/library/2022-strengthened-code-practice-disinformation. Acesso em: 16 dez. 2024.
FERREIRA, E. S. Desinformação, desinfodemia e letramento midiático e informacional – um estudo do processo estruturado no Brasil sob o governo Jair Bolsonaro e as formas de enfrentamento. Scripta, v. 25, n. 54, p. 96-128, 2021. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/26582. Acesso em: 19 ago. 2024.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 3ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
HOBBS, R.; JENSEN, A. The Past, Present, and Future of Media Literacy Education. Journal of Media Literacy Education, [S. l.], v. 1, p. 1-11, 2009.
KOMESU, F.; ALEXANDRE, G. G.; SILVA, L. S. A cura da infodemia? O tratamento da desinformação em práticas sociais letradas de checagem de fatos em tempos de Covid-19. In: RODRIGUES, D. L. D. I.; SILVA, J. Q. G. (org.). Estudos aplicados à prática de escrita acadêmica: colocando a mão na massa. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2020. v. 3, p. 185-229. Disponível em: https://editora.pucminas.br/obra/praticas-discursivas-em-letramento-academico-questoes-em-estudo-volume-3. Acesso em: 19 ago. 2024.
LEA, M.; STREET, B. O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, v. 16, n. 2, p. 477-493, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493.
STREET, B. Literacy in theory and practice. Cambridge: CUP, 1984.
STREET, B.; CASTANHEIRA, M. L. Práticas e eventos de letramento. Glossário Ceale. Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores. UFMG: Faculdade de Educação, 2014. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/praticas-e-eventos-deletramento. Acesso em: 15 set. 2025.
UNITED NATIONS. General Assembly. Countering disinformation for the promotion and protection of human rights and fundamental freedoms: report of the Secretary-General. Seventy-seventh session, Agenda item 69 (b). New York, 12 Aug. 2022. Disponível em: https://undocs.org/A/77/287. Acesso em: 21 dez. 2024.
WARDLE, C.; DERAKHSHAN, H. Desordem informacional: para um quadro interdisciplinar de investigação e elaboração de políticas públicas. 1 ed. Tradução de Pedro Caetano Filho e Abilio Rodrigues. Campinas: Centro e Lógica, Epistemologia e História da Ciência, UNICAMP, 2023 (Coleção CLE, 92).
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Infodemic. [s.d.]. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/infodemic#tab=tab_1. Acesso em: 21 dez. 2024.
ZUBOFF, S. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Tradução de George Schlesinger. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2021.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Thaís Cavalcanti dos Santos

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
A aprovação dos manuscritos implica cessão imediata e sem ônus dos direitos de publicação para a Linha D'Água. Os direitos autorais dos artigos publicados pertencem à instituição a qual a revista encontra-se vinculada. Em relação à disponibilidade dos conteúdos, a Linha D'Água adota a Licença Creative Commons, CC BY-NC Atribuição não comercial. Com essa licença é permitido acessar, baixar (download), copiar, imprimir, compartilhar, reutilizar e distribuir os artigos, desde que para uso não comercial e com a citação da fonte, conferindo os devidos créditos autorais à revista.
Nesses casos, em conformidade com a política de acesso livre e universal aos conteúdos, nenhuma permissão é necessária por parte dos autores ou do Editor. Em quaisquer outras situações a reprodução total ou parcial dos artigos da Linha D'Água em outras publicações, por quaisquer meios, para quaisquer outros fins que sejam natureza comercial, está condicionada à autorização por escrito do Editor.
Reproduções parciais de artigos (resumo, abstract, resumen, partes do texto que excedam 500 palavras, tabelas, figuras e outras ilustrações) requerem permissão por escrito dos detentores dos direitos autorais.
Reprodução parcial de outras publicações
Citações com mais de 500 palavras, reprodução de uma ou mais figuras, tabelas ou outras ilustrações devem ter permissão escrita do detentor dos direitos autorais do trabalho original para a reprodução especificada na revista Linha D'Água. A permissão deve ser endereçada ao autor do manuscrito submetido. Os direitos obtidos secundariamente não serão repassados em nenhuma circunstância.
Cómo citar
Datos de los fondos
-
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Números de la subvención 88887 933344/2024-00
