A primeira pessoa em prisma: uma leitura de “O unicórnio”, de Hilda Hilst
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2448-1769.mag.2023.207209Palavras-chave:
Literatura brasileira contemporânea, Fragmentação, Descentramento, Primeira pessoaResumo
Este trabalho analisa alguns aspectos da narrativa “O unicórnio”, de Hilda Hilst, publicada em 1970: a fragmentação formal e o deslocamento de vozes para narrar em primeira pessoa. Esses procedimentos formais são aqui associados a conflitos provenientes de uma estrutura social homogeneizante e autoritária. A noção de narrador descentrado, isto é, que está fora do centro heteronormativo, apresentada por Jaime Ginzburg (2012), contribui para analisar a construção da narração em primeira pessoa em “O unicórnio”. Na narrativa, o recurso do deslocamento dá voz a personagens fora do centro patriarcal e heteronormativo, como a lésbica, a escritora, o unicórnio, entre outros. Esse descentramento da voz narrativa é posto em diálogo com a noção de sujeito descentrado, de Stuart Hall (2006). Para esse autor, com as mudanças estruturais nas sociedades no final do século XX, o sujeito passa a assumir identidades diferentes, as quais não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Essa “perda do sentido de si” caracterizaria um descentramento do sujeito, cuja identidade não é fixa, essencial ou permanente. Em “O unicórnio”, as vozes que narram apresentam-se descentradas, deslocadas e fragmentadas, sob a opressão de uma perspectiva social hegemônica que responde à globalização, à cultura de massa e ao autoritarismo. Nesta leitura, são propostas relações entre a configuração formal fragmentária, o descentramento da primeira pessoa e uma estrutura social desordenada e violenta.
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