Morro de medo: regimes de mobilidades após uma década de Unidades de Polícia Pacificadora em favelas do Rio de Janeiro

Autores

Palavras-chave:

Espaço urbano, Violência urbana, Virada das mobilidades, Militarização, Turismo

Resumo

O objetivo deste artigo é demonstrar empiricamente que a análise de experiências de deslocamento cotidiano em favelas “pacificadas” evidencia desigualdades socioespaciais reproduzidas a partir de regimes de mobilidades. Como eixo articulador das reflexões, é apresentada a análise situacional de um protesto de rua contra a violência policial, ocorrida dez anos após a inauguração do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a partir da campanha “Morro de medo”. Debato as lógicas sociopolíticas que regem espaços urbanos a partir de três homicídios: o de um garçom que segurava um guarda-chuva na favela Chapéu Mangueira; o de uma turista na favela da Rocinha; e a de um jovem recém-envolvido com o tráfico de drogas na favela Santa Marta. Argumento que diferenciações sociais podem ser percebidas em territórios historicamente segregados tanto por experiências cotidianas de caminhar, quanto pelo significado reproduzido (ou não) a partir de homicídios cometidos por agentes policiais.

Biografia do Autor

  • Apoena Dias Mano, Universidade de São Paulo

    Doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). É Bacharel em Turismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com Pós-Graduação em Sociologia Urbana e Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Integrante do UrbanData-Brasil(CEM/USP) e dos grupos de pesquisa MTTM - Mobilidades: Teorias, Temas e Métodos(PPGS/USP) e CIDADES - Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS/UERJ).

Referências

ADEY, Peter. If mobility is everything then it is nothing: towards a relational politics of (im)mobilities. Mobilities, v. 1, n. 1, p. 75–94, 2006.

ALLIS, Thiago; MORAES, Camila; SHELLER, Mimi. Revisitando as mobilidades turísticas: places to play, places in play. Turismo em Análise, v. 31, n. 2, p. 271–295, 2020.

BAKER, Beth. Regime. Keywords of mobility: Critical engagements, p. 152–170, 2016.

BIRMAN, Patricia; LEITE, Marcia Pereira. Rio e São Paulo: categorias emaranhadas e relativização de seus sentidos. In: Os limites da acumulação, movimentos e resistência nos territórios. São Carlos: IAU/USP, 2018. p. 27–39.

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Civilização Brasileira, 2018.

CANO, Ignácio; BORGES, Doriam; RIBEIRO, Eduardo. Os donos do morro: uma avaliação exploratória do impacto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, LAV/UERJ, 2012.

CAVALCANTI, Mariana. Tiroteios, legibilidade e espaço urbano: notas etnográficas de uma favela carioca. Dilemas, v. 1, n. 1, p. 35–59, 2008.

CRESSWELL, Tim. Towards a politics of mobility. Environment and planning D: society and space, v. 28, n. 1, p. 17–31, 2010.

CRESSWELL, Tim. Friction. In: The Routledge Handbook of Mobilities. Routledge London, 2014.

DA MOTTA, Jonathan. Megaeventos, Estado e favelas sem UPPs no Rio de Janeiro: qual legado? Ponto Urbe, n. 25, 2019.

DAS, Veena. Critical events: an anthropological perspective on contemporary India. Oxford University Press Delhi, 1995.

DAS, Veena; POOLE, Deborah. Anthropology in the Margins of the State. Oxford: James Currey, 2004.

DE TOMMASI, Livia; VELAZCO, Dafne. A produção de um novo regime discursivo sobre as favelas cariocas e as muitas faces do empreendedorismo de base comunitária. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 56, p. 15–42, 2013.

FELTRAN, Gabriel de Santis. A categoria como intervalo: a diferença entre essência e desconstrução. cadernos pagu, n. 51, 2017.

FLEURY, Sonia. Militarização do social como estratégia de integração: o caso da UPP do Santa Marta. Sociologias, v. vol.14, n.30, p. pp.194-222, 2012.

FREIRE-MEDEIROS, Bianca; LAGES, Mauricio. A virada das mobilidades: fluxos, fixos e fricções. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 123, p. 121–142, 2020.

FREIRE-MEDEIROS, Bianca; ROCHA, Lia de Mattos; FARIAS, Juliana; NAME, Leo. Of cable-cars and helicopters: mobility regimes and the politics of visibility in the favelas of Rio de Janeiro. Visual Studies, p. 1–11, 2020.

FREIRE-MEDEIROS, Bianca; VILAROUCA, Márcio Grijó; MENEZES, Palloma. International tourists in a ‘pacified’ favela: profiles and attitudes. The case of Santa Marta, Rio de Janeiro. DIE ERDE–Journal of the Geographical Society of Berlin, v. 144, n. 2, p. 147–159, 2013.

FREITAS, João. A Invenção da cidade inteligente Rio: uma análise do Centro de Operações Rio pela lente das mobilidades (2010-2016). 2018. Tese apresentada ao CPDOC/FGV-RJ, 2018.

GLICK SCHILLER, Nina; SALAZAR, Noel B. Regimes of mobility across the globe. Journal of ethnic and migration studies, v. 39, n. 2, p. 183–200, 2013.

GLUCKMAN, Max. Analysis of a social situation in modern Zululand. Bantu studies, v. 14, n. 1, p. 1–30, 1940.

GORMAN-MURRAY, Andrew; NASH, Catherine. Mobile places, relational spaces: conceptualizing change in Sydney’s LGBTQ neighborhoods. Environment and Planning D: Society and Space, v. 32, n. 4, p. 622–641, 2014.

GRAHAM, Stephen. Cidades sitiadas: o novo urbanismo militar. Boitempo Editorial, 2016.

GRILLO, Carolina; GODOI, Rafael. Simulacros: a hiper-realidade do extermínio. Le Monde Diplomatique Brasil, v. 143, 2019.

HANNAM, Kevin; SHELLER, Mimi; URRY, John. Editorial: Mobilities, immobilities and moorings. Mobilities, v. 1, n. 1, p. 1–22, 2006.

JIRÓN, Paola. Mobile borders in urban daily mobility practices in Santiago de Chile. International Political Sociology, v. 4, n. 1, p. 66–79, 2010.

KOFMAN, Eleonore. Gendered mobilities and vulnerabilities: refugee journeys to and in Europe. Journal of Ethnic and Migration Studies, v. 45, n. 12, p. 2185–2199, 2019.

LEITE, Márcia Pereira. Da" metáfora da guerra" ao projeto de" pacificação": favelas e políticas de segurança pública no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Segurança Pública, v. 6, n. 2, Ago/Set, p. 374–389, 2012.

LEITE, Márcia Pereira. Preconceito racial e racismo institucional no Brasil. Le Monde Diplomatique Brasil, n. 60, p. 3, 2012. b.

LEITE, Márcia Pereira. State, market and administration of territories in the city of Rio de Janeiro. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, v. 14, n. 3, 2017.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2008.

MADUREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Elizabeth; IRVING, Marta; TAVARES, Frederico. Favela–lugar para se visitar ou evitar? As contradições na mídia sobre o turismo em favelas no Rio de Janeiro. Verso e Reverso, v. 32, n. 81, p. 168–186, 2018.

MAGALHÃES, Alexandre. A guerra como modo de governo em favelas do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 36, n. 106, 2021.

MAGNANI, José Guilherme. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17 n. 49, 2002

MANO, Apoena. Incerteza e suspensão: notas sobre a vida material e política da infraestrutura no cotidiano da favela Santa Marta/RJ. Revista Argumentos, v. 16, n. 1, p. 133–159, 2019.

MANO, Apoena. Dispositivos de Mobilidade: Estética, precariedade e legibilidade no marco de dez anos da “favela modelo”. Dissertação apresentada ao PPCIS/UERJ, Rio de Janeiro, 2020.

MANO, Apoena; MAYER, Verônica; FRATUCCI, Aguinaldo. Turismo de base comunitária na favela Santa Marta (RJ): oportunidades sociais, econômicas e culturais. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 11, n. 3, p. 413–435, 2017.

MENEZES, Palloma. Entre o "fogo cruzado" e o "campo minado": uma etnografia do processo de "pacificação" de favelas cariocas. Tese apresentada ao IESP/UERJ, Rio de Janeiro, 2015.

MISSE, Michel. Sujeição criminal: quando o crime constitui o ser do sujeito. In: Dispositivos urbanos e trama dos viventes: ordens e resistências, p. 77–91, 2015.

MORAES, Camila. Turismo em favelas: notas etnográficas sobre um debate em curso. Plural-Revista de Ciências Sociais, v. 23, n. 2, p. 65–93, 2016.

OST, Sabrina; FLEURY, Sonia. O mercado sobe o morro, a cidadania desce?: efeitos socioeconômicos da pacificação no Santa Marta. Dados, v. 56, n.3, p. 635–671, 2013.

PEIRANO, Mariza. Etnografia não é método. Horizontes antropológicos, n. 42, p. 377–391, 2014.

ROCHA, Lia de Mattos. Democracia e militarização no Rio de Janeiro: “pacificação”, intervenção e seus efeitos no espaço público. In: Militarização no Rio de Janeiro: da “pacificação” à intervenção. Rio de Janeiro: Mórula, p. 223–239, 2018.

SHELLER, Mimi. Mobility Justice. The Politics of Movement in an Age of Extremes. London: Verso, e-book, 363p. 2018.

SHELLER, Mimi; URRY, John. The new mobilities paradigm. Environment and planning, v. 38, n. 2, p. 207–226, 2006.

SINHORETTO, Jacqueline et al. A filtragem racial na seleção policial de suspeitos: segurança pública e relações raciais. Segurança pública e direitos humanos: temas transversais, v. 5, p. 121–160, 2014.

TELLES, Vera da Silva. A cidade nas fronteiras do legal e ilegal. Argumentum, 2010.

TSING, Anna. Friction: An Ethnography of Global Connection. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2005.

URRY, John. Mobilities. London: Polity Press, 2007.

VALLADARES, Licia. A invenção da favela: do mito de origem a favela.com. Editora FGV, 2005.

VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. cadernos pagu, n. 37, p. 79–116, 2011.

VIDAL E SOUZA, Candice. A vida móvel das mulheres entre os bairros e as cidades: explorações antropológicas em fronteiras urbanas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Minas Gerais/Brasil). universitas humanística n. 85, 2018.

Downloads

Publicado

2021-02-19

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Mano, A. D. . (2021). Morro de medo: regimes de mobilidades após uma década de Unidades de Polícia Pacificadora em favelas do Rio de Janeiro. Ponto Urbe, 28, 1-24. https://revistas.usp.br/pontourbe/article/view/217375