Tecnoconservadorismo, extremismo político e jovens identificados como MGTOW que participam de comunidades gamer no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-3341.pontourbe.2025.235530Palavras-chave:
Gamers, MGTOW, Tecnoconservadorismo, masculinismo, machosferaResumo
O artigo apresentado propõe uma investigação sobre a circulação de discursos tecnoconservadores com viés masculinista que são produzidos e difundidos em comunidades gamer no Brasil. Através de uma análise do perfil de jovens identificados como MGTOW (Men Going Their Own Way), procurou-se compreender a sua relação com os processos de radicalização, polarização e extremismo político operados hodiernamente em diversos perfis de distintas plataformas digitais, associados a misoginia, homofobia e transfobia, porém conduzidos por referenciais teóricos articulados em torno do pensamento escolástico, neoliberalismo e psicologia evolutiva. A partir de uma pesquisa sobre as postagens no fórum gamer Outer Space, o estudo identificou a produção e difusão de uma diversidade de discursos com conteúdos antifeministas, que rejeitam veementemente o casamento e o direito de família, críticas incessantes tanto ao progressismo quanto a crença na existência de uma natureza humana hipergâmica associada às mulheres, bem como ao gênero feminino. A investigação contou com a realização de uma etnografia em plataformas digitais, conduzida pela técnica do lurker (espreita), objetivando compreender como jovens identificados como MGTOW utilizam estratégias discursivas que reforçam a vitimização masculina e a inversão das opressões de gênero, promovendo uma visão reativa às mudanças sociais. Ademais, a cultura gamer, historicamente dominada por uma identidade masculina competitiva e militarizada, apresenta-se como um terreno fértil para a disseminação deste tipo de conteúdo extremista, especialmente em um contexto de resistência à diversidade na indústria dos jogos. O estudo ainda evidencia como que espaços digitais podem catalisar discursos extremistas, ressaltando a necessidade de compreender os impactos desta subjetivação tecnoconservadora.
Downloads
Referências
BRISTOT, P. C; POZZEBON, E; FRIGO, L. B. A representatividade das mulheres nos games. In: SBS - Proceedings of SBGames, 2017. Disponível em: <https://www.sbgames.org/sbgames2017/papers/CulturaFull/175394.pdf>
CARVALHO, Olavo de. A nova Era e a Revolução Cultural. Campinas: Vide Editorial, 2014.
CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2018.
DA EMPOLI, Giuliano. Os engenheiros do caos. São Paulo: Vestígio, 2019.
DYER-WITHEFORD, N; DE PEUTER, G. Games of empire. Toronto: University of Toronto Press, 2007.
FISHER, Max. A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo. São Paulo: Todavia, 2023.
FINCHELSTEIN, Federico. Uma breve história das mentiras fascistas. São Paulo: Vestígio, 2020.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011.
GRASSI, Amaro; RUEDIGER, Marco Aurelio (coord.). Movimento Red Pill no Youtube: eixos argumentativos e recomendações algorítmicas. Rio de Janeiro: FGV ECMI, 2023. 33 p.
HAN, Byung-Chul. Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2022.
JANISSE, K; CORUPE, P (org.). Satanic panic: pop-cultural paranoia in the 1980s. England, UK: FAB Press, 2022.
KHALED JR, S. H. Videogame e violência: cruzadas morais contra os jogos eletrônicos no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2018.
LEIRNER, Piero. O Brasil no espectro de uma guerra híbrida. São Paulo: Alameda, 2020.
LEMOS, André. Dataficação da vida. Civitas: Revista de Ciências Sociais. v. 21. n. 2, 2021.
MASSANARI, Adriane. #Gamergate and The Fappening: How Reddit’s algorithm, governance, and culture support toxic technocultures. New Media & Society, 2015, p. 1 – 18.
MIRRLEES, T. US Imperialism and the Military-Entertainment Complex. In: Ness, I., Cope, Z. (eds). The Palgrave Encyclopedia of Imperialism and Anti-Imperialism. Palgrave Macmillan, Cham, 2019.
NARDI, Henrique. Caetano. GAMERGATE: cultura dos jogos digitais e a identidade gamer masculina. Revista Mídia e Cotidiano, vol. 11, n.3, dez. 2017.
ROSA, Pablo Ornelas. Fascismo tropical: uma cibercartografia das novíssimas direitas brasileiras. Vitória: Editora MilFontes, 2019.
ROSA, Pablo Ornelas; SOUZA, Aknaton Toczek; CAMARGO, Giovane Matheus. Algoritmização e engajamento pelo ódio: Uma análise da trollagem no ciberespaço. In: 44º Encontro Anual da ANPOCS, 2020.
ROSA, Pablo O.; ANGELO, Vitor A.; ALMEIDA, Victor A.; VIEIRA, Breno B. R. Tecnoconservadorismo e o Brasil Paralelo. São Paulo: Autonomia Literária, 2024.
ROUVROY, Antoinette; BERNS, Thomas. (2015). Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação? Revista Eco-Pós. v. 18. n. 2, p. 36-56, 2015.
ROLNIK, Suely. Toxicômanos de Identidade: subjetividade em tempo de globalização. In: LINS, D. (Org.). Cultura e subjetividade: saberes nômades. Campinas. Papirus, 1997.
SANTINI, R. Marie; SALLES, Débora; BELIN, Luciane L; BELISÁRIO, Adriano; MATTOS,Bruno; MEDEIROS, Stéphanie G.; MELLO, Danielle; GRAEL, Felipe; SEADE, Renata;BORGES, Amanda; MURAKAMI, Lucas; CARDOSO, Rafael; DAU, Erick; LOUREIRO, Felipe; YONESHIGUE, Bernardo; CARMO, Vitor do; MAIA, Felipe. “Aprenda a evitar ‘esse tipo’ de mulher”: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube. Rio de Janeiro: NetLab – Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dez. 2024.
SILVEIRA, Sérgio A. A hipótese do colonialismo de dados e o neoliberalismo. In CASSINO, João F.; SOUZA, Joyce; SILVEIRA, Sérgio A. Colonialismo de dados. São Paulo: Hedra, 2021.
SRNICEK. Nick. Platform Capitalism. Polity Press, 2017.
STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”. Porto Alegre: L&PM, 2019.
TELLES, Edson. Governamentalidade algorítmica e as subjetivações rarefeitas. In: Revista Kriterion, Belo Horizonte, n. 140, p. 429-448, ago, 2018.
VAIDHYANATHAN, Siva. A Googletização de tudo. São Paulo: Cultrix, 2011.
VELHO, E.; HENN, R. Gamers e o Bolsonarismo: Análise dos enunciados sobre Jair Bolsonaro em um fórum gamer brasileiro. Revista Prâksis, [S. l.], v. 1, p. 44–60, 2024. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistapraksis/article/view/3577. Acesso em: 16 fev. 2025.
VICTOR, J. S; Satanic panic: the creation of a contemporary legend. Open Court, 1999.
VILAÇA, G.; D’ANDRÉA, C. Da manosphere à machosfera: Práticas (sub)culturais masculinistas em plataformas anonimizadas. Revista Eco-Pós, [S. l.], v. 24, n. 2, p. 410–440, 2021. Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/27703. Acesso em: 16 fev. 2025.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Giovane Matheus Camargo, Marcelo Bordin, Pablo Ornelas Rosa, Maria Cristina Dadalto

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
