A “Caixa de Pandora”. Representação, diferença e tecnologias nativas de reprodução entre os Rikbaktsa (Macro-Jê) do Sudoeste Amazônico
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.165225Palavras-chave:
Povos indígenas sulamericanos, homossexualidade, etnografiaResumo
Este artigo analisa o modo pelo qual os Rikbaktsa falam sobre e produzem suas “diferenças”, incluindo aquelas de gênero, sexo e outras modalidades de relação, com destaque para as práticas homoeróticas femininas. Centrado nas biotecnologias nativas e investigando sobre seus “dados bio-lógicos de base”, ele destaca a maestria exercida pelas mulheres sobre a produção de “pessoas” e de suas relações, em uma sociedade patrilinear e com ideias patricentradas sobre concepção, praticante da paternidade múltipla. A etnografia rikbaktsa sugere a reconsideração dos modelos hegemônicos para explicar os regimes de socialidade ameríndios e as sexualidades de povos indígenas brasileiros, diante do ressurgimento contemporâneo do tema. Por fim, o artigo explora alguns dilemas do fazer etnográfico e da representação na teoria antropológica.
Downloads
Referências
ÅRHEM, Karl 2007 “Comments”. Current Anthropology, 48(4): 514.
ATHILA, Adriana R. 2019. “Certainty Rallies? Parallel And Competing Circuits of Reproduction, Multiple Paternities, DNA Biotechnologies And Indigenous Peoples In Brazil”. [Kinship Algebra. Issue 17. St. Petersburg (Russia)] (no prelo).
ATHILA, Adriana R. 2010. “How People Are Made: Gender, Difference And Ethnography In An Amazonian Indigenous Society”. Vibrant Anthropology, v. 7, nº 1:157-187.
ATHILA, Adriana R. 2008. “Dentro da casa dos homens: sobre topologias rituais e os dilemas de uma etnóloga em Campo”. Caderno Espaço Feminino, v. 20, n. 02: 131-153.
ATHILA, Adriana R. 2006. “Arriscando corpos”: permeabilidade, alteridade e as formas da socialidade entre os Rikbaktsa (macro-Jê) do Sudoeste Amazônico. Rio de Janeiro, Tese de doutorado, IFCS/UFRJ.
BEHAR, Ruth; GORDON, Deborah. A. 1995. Women Writing Culture. California, University of California Press.
BELAUNDE, Luisa Elvira. 2018. Sexualidades amazónicas: género, deseos y alteridades. Lima, La Siniestra.
BELAUNDE, Luisa Elvira. 2015a. “O estudo da sexualidade na Etnologia”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 24: 399-411.
BELAUNDE, Luisa Elvira. 2015b. “Resguardo e sexualidade(s): uma antropologia simétrica das sexualidades amazônicas em transformação”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 24: 538-564
BUSBY, Cecilia. 1997. “Permeable and Partible Persons: A Comparative Analysis of Gender And Body In South India And Melanesia”. Journal of the Royal Anthropological Institute, (N.S.), 3: 261-278.
CALHEIROS, Orlando. 2015. “O próprio do desejo: a emergência da diferença extensiva entre os viventes (Aikewara, Pará)”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 24: 487-504.
CANCELA, Cristina Donza; SILVEIRA, Flávio Leonel; MACHADO, Almires. 2010. “Caminhos de uma pesquisa acerca da sexualidade em aldeias indígenas no Mato Grosso do Sul”. Revista de Antropologia, vol. 53, nº 1: 199-235.
CARIAGA, Diogenes. 2015. “Gênero e sexualidades indígenas: alguns aspectos das transformações nas relações a partir dos Kaiowa em Mato Grosso do Sul”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 24: 441-464.
CLIFFORD, James. 1986. “Introduction: Parcial Truths”. In CLIFFORD, James e MARCUS, George (eds.). Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. California, University of California Press, pp. 1-26.
CLIFFORD, James; MARCUS, George. 1991. Retoricas de la Antropologia. Madrid, Ediciones Júcar.
COLLIER, Jane Fishburne; YANAGISAKO, Sylvia Junko. 1987. Gender and Kinship: Essays Toward a United Analysis.Stanford, Stanford University Press.
COLPRON, Anne-Marie. 2005. “Monopólio masculino do xamanismo amazônico: o contra-exemplo das mulheres xamã Shipibo-Conibo”. Mana, 11(1):95-128.
COSTA, Claudia de Lima. 2001. “Feminismo fora do centro: entrevista com Ella Shohat”. Traduzido por Sônia Weidner Maluf. Rev. Estud. Fem. [online], 9 (1):147-163.
DELEUZE, Gilles. 1968. Différence Et Répetition. Paris, Presses Universitaire de France.
DIAS, Diego Madi. 2019. “Outros afetos, outros desejos: por uma antropologia das pulsões na Amazônia”. Revista de Antropologia, v. 62, n. 2: 485-493
FASSIN, Didier. 2016. “L’Ethnographie Retrouvée”. L’Homme, 219-220: 287-310.
FERNANDES, Estevão Rafael. 2015. Decolonizando sexualidades: enquadramentos coloniais e homossexualidade indígena no Brasil e nos Estados Unidos. Brasília, tese de doutorado, Universidade de Brasília.
FERNANDES, Estevão Rafael. 2017a. “Quando existir é resistir: Two-Spirits como crítica colonial”. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, vol. 11, nº 1:100-122.
FERNANDES, Estevão Rafael. 2017b. “Ser índio e ser gay: tecendo uma tese sobre homossexualidade indígena no Brasil”. Etnográfica Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, v. 21, n.3: 639-647.
FERNANDES, Estevão Rafael e ARISI, Barbara. M. 2017. Gay Indians in Brazil: Untold Stories of the Colonization of Indigenous Sexualities. Cham, Springer International Publishing.
FONSECA, Claudia. 2004. “A certeza que pariu a dúvida: paternidade e DNA”. Revista de Estudos Feministas, 12 (2): 13-34.
FRANCHETTO, Bruna. 2018. “Traduzindo tolo: ‘eu canto o que ela cantou que ele disse que...’ ou ‘quando cantamos somos todas hipermulheres’”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 53: 23-43.
GOLDMAN, Marcio. 2008. “Os Tambores do antropólogo: antropologia pós-Social e etnografia”. Ponto Urbe – Revista do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, ano 2, versão 3.0.
GONÇALVES, José Reginaldo dos Santos. 1996. “A Obsessão pela cultura”. In: PAIVA, Marcia; MOREIRA, Maria Ester (coord.). Cultura, substantivo plural. Rio de Janeiro, CCBB/34 Letras, pp 159-176.
GONTIJO, Fabiano. 2017. “As experiências da diversidade sexual e de Gênero no interior da amazônia: apontamentos para estudos nas ciências sociais”, Ciência e Cultura, vol. 69, nº 1: 50-53.
HARAWAY, Donna. 2004. “Gênero para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra”. Cadernos de Pagu (22): 201-246.
HOWELL, Signe; MELHUUS, Marit. 1993. “The Study of kinship; the Study of Person; a Study of Gender?” In: DEL VALLE, Teresa (ed.). Gendered Anthropology. New York, Routledge, pp. 38-53.
HÉRITIER, Françoise. 1981. L’Exercice de la Parenté. Paris, Gallimard/ Le Seuil.
INGOLD, Tim. 2015. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis, Vozes.
LAGROU, Elsje M. 2007. “Comments”. Current Anthropology, 48 (4): 516-517.
LANGDON, Esther J. 2007. “Comments”, Current Anthropology, 48 (4): 517-518.
LATOUR, Bruno. 2001. A Esperança de pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, Edusc (Trabalho original publicado em 1999).
LATOUR, Bruno. 2004. “How to Talk About Body? The Normative Dimension of Science Studies”. Body & Society, 10 (2-3): 205-229
LEA, Vanessa2001 “The Composition of Mẽbengokre (kayapó) Households in Central Brazil”. In: RIVAL, Laura e WHITEHEAD, Neil (eds.). Beyond The Material: The Amerindianization Of Society In The Work of Peter Rivière. Oxford, Oxford University Press, pp. 157-176.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1982. As estruturas elementares do parentesco. Vozes,Petrópolis (Trabalho original publicado em 1967).
LÉVI-STRAUSS, Claude. 2004. O cru e o cozido (Mitológicas, v. 1). Cosac & Naify, São Paulo (Trabalho original publicado em 1964).
MALUF, Sônia Weidner. 2002. “Corporalidade e desejo: tudo sobre a minha mãe e o gênero nas margens”. Revista de Estudos Feministas, 10 (1): 143-153.
MARGARET MEAD AND SAMOA. 1988. Direção de Frank Heimans. Cremorne, NSW: Cinetel Productions. 1 DVD (51min)
MEAD, Margareth. 1935. Sex and Temperament. William Morrow and Company, New York
MCCALLUM, Cecilia. 2013. “Notas sobre as categorias de ‘gênero’ e ‘sexualidade’ e os povos indígenas”. Cadernos Pagu, n. 41: 53-61.
MOORE, Henrietta. 1999a. “Anthropological Theory At The Turn Of The Century”. In: ___ (ed.), Anthropological Theory Today. Polity Press, London, pp.1-23.
MOORE, Henrietta. 1999b. “Wathever Happened To Women And Men? Gender And Other Crises In Anthropology”. In: ___ (ed.). Anthropological Theory Today. Polity Press, London, pp.151-171.
ORTNER, Shery. 1974 “Is Female To Male As Nature To Culture?”. In: ROSALDO, Michelle; LAMPHERE, Louise e BAMBERGER, Joan (eds.). Women, Culture and Society, Stanford, Stanford University Press, pp. 67-88.
ORTNER, Shery. 2006. “Uma atualização da teoria da prática e poder e projetos - reflexões sobre a agência”, Conferências de Sherry Ortner. In: GROSSI, Miriam Pillar; ECKERT, Cornelia e FRY, Peter (orgs).Conferências e Diálogos: Saberes e Práticas Antropológicas. Florianópolis/Blumenau, ABA/Nova Letra, pp.17-44.
OVERING, Joanna. 1986. “Men Control Women? The “Catch 22” In The Analysis Of Gender”. International Journal of Moral and Social Studies, 1 (2): 135-156.
PANET, Rose-france de Farias. 2010. ‘I-mã a Kupên Prâm!’ prazer e sexualidade entre os Canela. Maranhão, tese de doutorado, Universidade Federal do Maranhão.
PONTES, Heloisa. 2004. “Resenha do livro Empires, Nations and Natives: Anthropology and State-Making”. Mana 10(1):198-203.
ROSALDO, Michelle. 1974. “Woman, Culture, And Society: A Theoretical Overview”. In: ROSALDO, Michelle; LAMPHERE, Louise e BAMBERGER, Joan (eds.). Women, Culture and Society, Stanford, Stanford University Press, pp. 17-42.
RUBIN, Gayle. 2003. “Tráfico sexual: entrevista(por Judith Butler)”. Cadernos Pagu (21): 157-209.
SACHI, Ângela e GRAMKOW, Márcia Maria. 2012. Gênero e povos indígenas. Coletânea de textos produzidos para o “Fazendo Gênero 9” e para a “27a Reunião Brasileira de Antropologia”,Brasília/Rio de Janeiro, Museu do Índio/FUNAI/GTZ.
SEEGER, Anthony et al. 1987. “A Construção da Pessoa nas Sociedades Indígenas Brasileiras”. In: OLIVEIRA FILHO, João Pacheco (org.). Sociedades Indígenas e Indigenismo no Brasil, Rio de Janeiro, Editora da UFRJ/ Marco Zero, pp. 1-30 (Trabalho original publicado em 1979).
STRATHERN, Marilyn. 2006a. “A Community Of Critics? Thoughts On New Knowledge”. The Journal of the Royal Anthropological Institute, 12(1): 195-209.
STRATHERN, Marilyn. 2006b. O Gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas, Editora UNICAMP (Trabalho original publicado em 1988).
TOTA, Martinho. 2013. Entre as diferenças: gênero, geração e sexualidades em contexto interétnico. Rio de Janeiro, Multifoco.
VIANA, Luiz Diaz. 1991. “Prólogo”.In CLIFFORD, James e MARCUS, George (eds.). Retoricas de la Antropologia. Madrid, Ediciones Júcar, pp. 9-19.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo Batalha. 1990. “Princípios e parâmetros: um comentário a L’Éxercice de la Parenté”. Comunicações do PPGAS, 17: 1-106.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo Batalha. 2002a. “O nativo relativo”. Mana, 8(1):113-148.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo Batalha. 2002b. A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac & Naify.
WAGNER, Roy. 1981. The Invention of Culture (Revised and Expanded Edition). London, University of Chicago Press.
YANAGISAKO, Sylvia e COLLIER, Jane Fishburne. 1987. “Toward An Unified Analysis Of Gender And Kinship”. In: COLLIER, Jane Fishburne e YANAGISAKO, Sylvia (eds.). Gender and Kinship: Essays Toward a United Analysis. Stanford, Stanford University Press, pp. 14-50.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Revista de Antropologia
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).