Casas de “tomar conta” e creches públicas: relações de cuidados e interdependência entre periferias e Estado
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.189648Palavras-chave:
Casas, Creches, Interdependência, Cuidados, GêneroResumo
Este artigo analisa as relações de coexistência entre as práticas informais de cuidados realizadas nas periferias e as administrações de Estado. A etnografia foi realizada num complexo de favelas situado na Zona Norte do Rio de Janeiro. A análise procura ressaltar as dinâmicas de interdependência entre as casas de moradoras de favela que “tomam conta” de crianças e as creches públicas. A partir das reflexões sobre os cuidados transacionados nesses espaços, busca-se refletir sobre as ideias de dependência, Estado provedor, sexualidade e reprodução feminina. A complementaridade entre esses lugares aponta para a existência de relações de cuidados nas quais dinâmicas de vulnerabilidade, escassez e demanda por recursos sociais são elementos de disputa que remetem a processos de reprodução estratificada de desigualdades históricas de gênero, classe, sexualidade, território e raça.
Downloads
Referências
AGÊNCIA BRASIL. “Redução no número de filhos por família é maior entre os 20% mais pobres do país”. Link para consulta: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-03/reducao-no-numero-de-filhos-por-familia-e-maior-entre-os-20-mais-pobres
BIRMAN, Patrícia. 2008. “Favela é comunidade?”. In: MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio (Org.). Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
CARNEIRO, Sueli. 1995. Gênero, raça e ascenção social. Revista Estudos feministas, v. 3, n. 2: 544-552.
CARSTEN, Janet; HUGH-JONES, Stephen. 1995. About the House: Lévi-Strauss and Beyond. Cambridge University Press, Cambridge.
COLEN, Shellee. 2007. “‘Like a Mother to Them’: Stratified Reproduction and West Indian Childcare workers and Employers in New York”. In: GINSBURG, Faye; RAPP, Rayna. (Eds.) Conceiving the New World Order: The Global Politics of Reproduction. University of California Press, Berkeley.
CORRÊA, Mariza. 2007. A babá de Freud e outras babás. Cadernos Pagu, v. 29: 61-90.
D’ANDREA, Tiaraju. 2020. Contribuições para a definição dos conceitos periferia e sujeitas e sujeitos periféricos. Novos estudos CEBRAP, v. 39, n. 1: 19-36. DOI: https://doi.org/10.25091/s010133002020000100055
DAS, Veena; POOLE, Deborah. (Eds). 2004. Anthropology in the Margins of The State. School of American Research Press, Santa Fe.
DEBERT, Guita. 2014. Arenas de conflito em torno do cuidado. Tempo Social, v. 26, n. 1: 35-45.
DEBERT, Guita G.; PULHEZ, Mariana. 2019. Desafios do cuidado: gênero, velhice e deficiência. 2.ed. Campinas, SP: Unicamp.
DUARTE, Luiz Fernando Dias; GOMES, Edlaine de Campos. 2008. Três famílias: identidades e trajetórias transgeracionais nas classes populares. Editora FGV, Rio de Janeiro.
FELTRAN, Gabriel. 2012. Periferias, direito e diferença: notas de uma etnografia urbana. Revista de Antropologia, v. 53, n. 2: 565-610. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2010.37711
FERNANDES, Camila. “O tempo do cuidado. Batalhas femininas por autonomia e mobilidade. In: RANGEL, Everton; FERNANDES, Camila;LIMA, Fátima (orgs.). 2018.(Des) prazer da norma. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, pp. 297-320.
FINCO, Daniela; GOBBI, Marcia A.; FARIA, Ana Lúcia. 2015. Creche e feminismo: desafios atuais para uma educação descolonizadora. Campinas, SP, Edições Leitura Crítica; Associação de Leitura do Brasil – ALB; São Paulo, Fundação Carlos Chagas – FCC.
FONSECA, Claudia. 1995a. Caminhos da adoção. São Paulo: Cortez Editora.
FONSECA, Claudia. 1995b. “Amor e família: Vacas sagradas da nossa época”. In: RIBEIRO, Ivete; RIBEIRO, Ana Clara T. (Orgs.). Família em processos contemporâneos: Inovações culturais na sociedade brasileira. Loyola, São Paulo, pp. 69-89.
FOUCAULT, Michel. (2005). Em defesa da sociedade. Curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes
HIRATA, Helena.; GUIMARÃES, Nádia A. 2012. Cuidado e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo: Atlas.
HOCHSCHILD, Arlie. 2000. “Global Care Chains and Emotional Surplus Value”. In: GIDDENS, Anthony; HUTTON, Will (Eds.). On the Edge Living with Global Capitalism. Random House, New York, pp. 130-146.
MITCHELL, Timothy. 2006. “Society, Economy, and the State Effect”. InSHARMA, Aradhana; : GUPTA, Akhil. (Eds.). The anthropology of the state: A reader. Nova Jersey, Wiley-Blackwell, pp. 169-186.
MOLINIER, Pascale; PAPERMAN, Patricia. 2015. Descompartimentar a noção de cuidado?. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 18: 43-57. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-335220151802
MORAIS, Gabriel. 2019. “Mais de 36 mil crianças estão na lista de espera por creche no rio”. Link para consulta: https://extra.globo.com/noticias/rio/mais-de-36-mil-criancas-estao-na-lista-de-espera-por-creche-no-rio-23854493.html
MOUTINHO, Laura. 2004. Razão, "cor" e desejo: uma análise comparativa sobre relacionamentos afetivo-sexuais "inter-raciais" no Brasil e na África do Sul. São Paulo, Editora da Unesp.
PASSAMANI, Guilherme. 2017. “É ajuda, não é prostituição”: Sexualidade, envelhecimento e afeto entre pessoas com condutas homossexuais no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Cadernos Pagu, n. 51. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/18094449201700510009.
PISCITELLI, Adriana. 2008a. Entre as “máfias” e a “ajuda”: a construção de conhecimento sobre tráfico de pessoas. Cadernos Pagu, n. 31: 29-63. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-83332008000200003.
PISCITELLI, Adriana. 2008b. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e cultura, v. 11, n. 2: 263-274.
ROSEMBERG, Fúlvia. 2003. Creches domiciliares: argumentos ou falácias. Cadernos de pesquisa, n. 56: 73-81.
SORJ. Bila. 2016. Políticas sociais, participação comunitária e a desprofissionalização do care. Cadernos Pagu, n. 46: 107-128. DOI: https://doi.org/10.1590/18094449201600460107
SOUZA LIMA, Antonio Carlos. 2002. “Introdução: Sobre gestar e gerir a desigualdade: pontos de investigação e diálogo”. In: SOUZA LIMA, Antônio Carlos (ed.). Gestar e Gerir: Estudos para uma antropologia da administração pública no Brasil. Rio de Janeiro, Relume Dumará, pp. 11-22.
TELLES, Vera da Silva. 2010. A cidade nas fronteiras do legal e ilegal. Fino Traço, Belo Horizonte.
TERRA. 2015. Link para consulta: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/beneficiarios-do-bolsa-familia-tem-maior-queda-de-natalidade,fc4c26eabe57c410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
VIANNA, Adriana de Resende Barreto. 2013. “Introdução: fazendo e desfazendo inquietudes no mundo dos direitos”. In: VIANNA, Adriana (org.), O fazer e o desfazer dos direitos: experiências etnográficas sobre política, administração e moralidades. Rio de Janeiro, E-papers, pp. 36-67.
VIANNA, Adriana. 2015. “Tempos, dores e corpos: considerações sobre a ‘espera’ entre familiares de vítimas de violência policial no Rio de Janeiro”. In: BIRMAN, Patrícia et al. (Eds.). Dispositivos urbanos e trama dos viventes: ordens e resistências. Rio de Janeiro, FGV editora.
Vianna, Adriana; Lowenkron, Laura. 2017. O duplo fazer do gênero e do Estado: interconexões, materialidades e linguagens. Cadernos Pagu, n. 51: e175101. DOI. https://doi.org/10.1590/18094449201700510001
ZELIZER, Viviana. 2009. Dualidades perigosas. Mana – Estudos de Antropologia Social, v. 15, n. 1: 237-256. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93132009000100009.
ZELIZER, Viviana. 2011. A negociação da intimidade. Coleção Sociologia. Petrópolis, Vozes.
WEBER, Florence. 2009. Trabalho fora do trabalho: uma etnografia das percepções. Tradução de Roberta Ceva. Rio de Janeiro, Garamond.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Revista de Antropologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).