Tornar-se uma deusa e um aristocrata: Psiquê e o barão de Nova Friburgo no Palácio do Catete

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2025.235017

Palavras-chave:

Palácio do Catete, Barão de Nova Friburgo, Mito de Cupido e Psiquê, Apuleio, O asno de ouro

Resumo

O atualmente denominado Palácio do Catete foi construído para ser a residência na Corte do recém enobrecido barão de Nova Friburgo, que, tendo como fonte da sua riqueza recursos advindos do tráfico de africanos escravizados, adquiriu terras para plantação de café e foi considerado um dos homens mais ricos do Brasil II Império. Os motivos decorativos da sua moradia fazem referência à Antiguidade Clássica, prática compreendida a partir do conceito de “invenção das tradições” na acepção de Hobsbawm (1984: 9-23). Em especial, o espaço reservado à escadaria principal para o acesso ao andar nobre, onde se localizavam os cômodos de recepção festiva dos convidados do barão, teve como principal motivo o mito de Cupido e Psiquê. O artigo objetiva compreender a construção deste tema decorativo articulando-a com a narrativa literária do mito pelo antigo escritor latino Apuleio, em O asno de ouro IV, 28 a VI, 24, e a narrativa imagética renascentista da loggia di Amore e Psiche na Villa Farnesina em Roma. Consideramos que a escolha do tema pelo comitente buscou associar a sua trajetória pessoal apenas como latifundiário cafeicultor, que lhe granjeou o título de nobreza e o tornou um aristocrata na Corte imperial, à apoteose da mortal Psiquê como deusa no Olimpo.

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Biografia do Autor

  • Regina Maria da Cunha Bustamante, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Possui Licenciatura Plena e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ (1983), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ (1990) e Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense / UFF (1998). Atualmente, é Professora Associada da UFRJ, vinculada ao Instituto de História, sendo docente dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura em História e Curso de Mestrado Profissional de Ensino de História do Programa de Pós-graduação em Ensino de História (PPGEH) em rede nacional / PROFHISTÓRIA. Faz parte dos Grupos de Pesquisa: Laboratório de História Antiga (UFRJ), Laboratório de Estudos do Império Romano (USP, UFOP, UFES, UFG, UNESP Franca, UFRB e UFRJ), grupo ATRIVM (Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade) do Departamento de Letras Clássicas / UFRJ e Laboratório de História do Esporte e do Lazer (UFMG e UFRJ). Co-editora científica da Revista Phoînix (ISSN 1413-5787). Atua na área de História Antiga, com ênfases em: Antiguidade Romana, desenvolvendo pesquisa em África Romana, identidade/alteridade e imagética, e Ensino de História, particularmente em Educação Patrimonial, documentos e o seu uso na produção e no ensino do conhecimento histórico escolar.

  • Deivid Valério Gaia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Doutor em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales e pela Universidade de São Paulo (2013). É mestre em Letras pela Universidade Paris 8 (2008). É mestre em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (2009). É bacharel em História, com graduação iniciada na Universidade Estadual de Maringá e finalizada na Universidade Paris 8 (Saint-Denis/Vincennes). Foi professor assistente de História Antiga na Universidade Federal do Pampa, entre 2010 e 2012, e professor adjunto na Universidade Federal de Pelotas, entre 2012 e 2014. Desde 2014, é professor adjunto IV da área de História Antiga da UFRJ. Atualmente, atua nos Programas de Pós-Graduações em História Comparada (desde 2017) e em História Social, ambos da UFRJ (desde 2022). Na UFRJ, coordenou o Programa de Pós-Graduação em História Comparada (2021-2022), a área de Licenciatura (2017-2018), a área e o Laboratório de História Antiga (2014-2022), também foi membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da UFRJ (2016-2022). Foi bolsista da École Française de Rome e é membro do Projeto de História e Gênero da Antiguidade intitulado Eurykleia - celles qui avaient un nom, Anhima (Sorbonne-EHESS), Paris. Suas pesquisas atuais se desenvolvem no âmbito da História Econômica e Social do mundo romano; da historiografia e literatura latinas; da História das Mulheres; dos estudos de recepção da Antiguidade na arte e na arquitetura do Rio de Janeiro dos séculos XIX e XX. Atualmente é bolsista cientista júnior da Faperj.

  • Marcus Vinícius Macri Rodrigues, Museu da República

    Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Mestre em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007). Técnico em Assuntos Culturais - História, do Instituto Brasileiro de Museus, atuando no Museu da República - RJ desde 04/10/2010.

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Publicado

2025-09-12

Como Citar

BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha; GAIA, Deivid Valério; RODRIGUES, Marcus Vinícius Macri. Tornar-se uma deusa e um aristocrata: Psiquê e o barão de Nova Friburgo no Palácio do Catete. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Brasil, n. 44, p. 124–142, 2025. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2025.235017. Disponível em: https://revistas.usp.br/revmae/article/view/235017.. Acesso em: 30 dez. 2025.