A escravidão brasileira à época da Independência

Autores

  • José Flávio Motta Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.i132p37-58

Palavras-chave:

Escravidão, Independência, Estrutura da posse de escravos, Família escrava, Partido Negro

Resumo

Fornecemos, de início, estimativas do “estoque” e do “fluxo” de pessoas escravizadas no Brasil na primeira metade do século XIX, enfatizando a intensificação da entrada de cativos. Em seguida, analisamos os impactos desses números nas características da escravidão brasileira à época da Independência, privilegiando dois temas. O primeiro, o padrão da distribuição da posse de cativos, permite-nos perceber o alargamento da disseminação daquela posse. Quanto ao segundo, as famílias escravas, evidenciamos a concomitância de sua vulnerabilidade e resiliência no enfrentamento dos rigores do cativeiro. Por fim, discutimos a eventual participação direta das pessoas escravizadas no processo de emancipação política, apresentando as características do Partido Negro. Nas considerações finais, destacamos aspectos da trajetória da escravidão até sua abolição, apontando as cicatrizes profundas por ela deixadas, ainda nitidamente visíveis em nossos dias.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • José Flávio Motta, Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

    Professor titular da FEA/USP e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História Econômica Hermes & Clio

Referências

BANCO DE DADOS do Tráfico de escravos transatlântico. Disponível em: http://slavevoyages.org.

BEIGUELMAN, P. A formação do povo no complexo cafeeiro: aspectos políticos. 3ª ed. São Paulo, Edusp, 2005.

BRITO, J. R. de et al. Cartas econômico-políticas sobre a agricultura e comércio da Bahia. Lisboa, Imprensa Nacional, 1821 (reeditadas pelo Governo do Estado da Bahia no ano de 1924).

BUESCU, M. “Rodrigues de Brito: um libelo contra o colonialismo”, in M. Buescu. História econômica do Brasil: pesquisas e análises. Rio de Janeiro, Apec,1970, pp. 230-8.

CHALHOUB, S. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

CONRAD, R. E. Os últimos anos da escravatura no Brasil, 1850–1888. 2ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

COSER, I. Visconde do Uruguai: centralização e federalismo no Brasil, 1823-1866. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Editora UFMG/Iuperj, 2008.

COSTA, E. V. da. “Introdução ao estudo da emancipação política do Brasil”, in C. G. Mota (org.). Brasil em perspectiva. São Paulo, Difel, 1981, pp. 64-125.

COSTA, I. del N. da. Arraia-miúda: um estudo sobre os não proprietários de escravos no Brasil. São Paulo, MGSP, 1992.

ESTATÍSTICAS HISTÓRICAS do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. (Série estatísticas retrospectivas, v. 3). 2.ed. rev. e atualizada. Rio de Janeiro: IBGE,

FLORENTINO, M.; GÓES, J. R. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1850. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.

FURTADO, C. Formação econômica do Brasil: edição comemorativa, 50 anos. Organização Rosa Freire d’Aguiar Furtado. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.

GEGGUS ,D. P. (ed.). The Haitian Revolution: a documentary history. Indianapolis,Hackett

Publishing Company, Inc., 2014(kindle edition).

GORENDER, J. O escravismo colonial. 4ª ed. rev. e ampliada. São Paulo, Ática, 1985.

JAMES, C. L. R. The Black Jacobins: toussaint l’ouverture and the San Domingo Revolution. London, Penguin Books, 2001 (kindle edition).

LEI DE 7 DE NOVEMBRO de 1831. Brasil. Câmara dos Deputados. Legislação informatizada. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37659-7-novembro-1831-564776-publicacaooriginal-88704-pl.html.

LIBBY, D. C. Transformação e trabalho em uma economia escravista: Minas Gerais no século XIX. São Paulo, Brasiliense, 1988.

MAMIGONIAN, B.; GRINBERG, K. (orgs.). “Dossiê ‘Para inglês ver?’ Revisitando a Lei de 1831”. Estudos Afro-Asiáticos, ano 29, n. 1/2/3. Rio de Janeiro, jan.-dez./2007, pp. 90-340.

MARTINS, R. B. Crescendo em silêncio: a incrível economia escravista de Minas Gerais no século XIX. Belo Horizonte, Icam/ABPHE, 2018.

MELLO, E. C. de. A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817a1824. São Paulo, Editora 34, 2004.

MOTT, L. “Um documento inédito para a história da Independência”, in C. G. Mota (org.). 1822 Dimensões. 2ª ed. São Paulo, Perspectiva, 1986, pp. 465-83.

MOTTA, J. F. “Família escrava: uma incursão pela historiografia”. História: Questões & Debates,vol. 9, n. 16, jun./1988, pp.104-59.

MOTTA, J. F. Corpos escravos, vontades livres: posse de cativos e família escrava em Bananal (1801-1829). São Paulo, Annablume/Fapesp,1999.

MOTTA, J. F. “A família escrava na historiografia brasileira: os últimos 25 anos”, in E. M. Samara (org.). Historiografia brasileira em debate: “olhares, recortes e tendências”. São Paulo,Humanitas/FFLCH/USP, 2002, pp. 235-54.

MOTTA, J. F. Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico interno de cativos na expansão cafeeira paulista (Areias, Guaratinguetá, Constituição/Piracicaba e Casa Branca, 1861-1887). São Paulo, Alameda/Fapesp, 2012.

MOTTA, J. F. Família escrava no Brasil: uma incursão pela historiografia brasileira do século XXI. Trabalho apresentado no VIII Simpósio Nacional de História da População. São Paulo, Abep, 2019 Disponível em: https://www.academia.edu/42912534.

MOTTA, J. F.; LOPES, L. S. “O Partido Negro na Independência do Brasil: realidade ou fantasia ? ” Informações Fipe, n. 418. São Paulo, Fipe, jul./2015, pp. 38-44.

MOTTA, J. F.; NOZOE, N.; COSTA, I. del N. da. “Às vésperas da abolição: um estudo sobre a estrutura da posse de escravos em São Cristóvão (RJ), 1870”. Estudos Econômicos, vol. 34, n. 1. São Paulo, jan.-mar./2004, pp. 157-213.

MOURA, C. Dicionário da escravidão negra no Brasil. São Paulo, Edusp, 2004.

NICOLAU, J. Eleições no Brasil: do Império aos dias atuais. Rio de Janeiro, Zahar, 2012.

NOVAIS, F. A. “As dimensões da Independência”, in C. G. Mota (org.). 1822: Dimensões. 2ª ed. São Paulo, Perspectiva, 1986, pp.15-26.

NOVAIS, F. A. Estrutura e dinâmica do antigo sistema colonial (séculos XVI-XVIII). 5ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1990.

PORTO, W. C. A mentirosa urna. São Paulo, Martins Fontes, 2004.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 2008.

REIS, J. J. “O jogo duro do dois de julho: o Partido Negro na independência da Bahia”, in J. J. R.; E. Silva. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo, Companhia das Letras, 1989, pp. 79-98.

REIS, J. J. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. Edição rev. e ampliada. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

RIBEIRO, G. S. “O desejo da liberdade e a participação de homens livres pobres e ‘de cor’ na Independência do Brasil”, Cadernos Cedes, vol. 22, n. 58 Campinas, dez./2002, pp. 21- 45.

SARAIVA, L. F.; SANTOS, S. A. dos; PESSOA, T. C. Tráfico & traficantes na ilegalidade: o comércio proibido de escravos para o Brasil (c. 1831-1850). São Paulo, Hucitec, 2021.

SCHWARTZ, S. B. “Camponeses e escravatura: alimentando o Brasil no fim do período colonial”, in S. B. Schwartz. Da América portuguesa ao Brasil: estudos históricos. Algés, Difel, 2003, pp. 97-142.

SILVA, J. N. de S. e. Investigações sobre os recenseamentos da população geral do Império e de cada província de persitentados desde os tempos coloniais até hoje. Edição fac-similada. São Paulo, IPE/USP, 1986.

SLENES, R. W. “Os múltiplos de porcos e diamantes: a economia escrava de Minas Gerais no século XIX”. Estudos Econômicos, v. 18, n. 3. São Paulo, set.-dez./1988, pp. 449-95.

SLENES, R. W. “The brazilian internal slave trade, 1850-1888: regional economics, slave experience, and the politics of a peculiar market”, in W. Johnson (ed.). The chattel principle: internal slave trades in the Americas. New Haven/London, Yale University Press, 2004, pp. 25-70.

SLENES, R. W. Na senzala, uma flor – esperanças e recordações na formação da família escrava: Brasil Sudeste, século XIX. 2ª ed. corrigida. Campinas, Editora da Unicamp, 2011.

SOUZA, F. A. e. “A dissimulada arte de produzir exclusões: as reformas que encolheram o eleitorado brasileiro (1881-1930)”. Revista de História, n. 179, a01020, 2020.

VIANNA, F. J. de O. Resumo histórico dos inquéritos censitários realizados no Brasil. Edição fac-similada. São Paulo, IPE/USP, 1986.

Downloads

Publicado

2022-04-04 — Atualizado em 2022-04-07

Versões

Edição

Seção

Dossiê bicentenário da independência: economia

Como Citar

MOTTA, José Flávio. A escravidão brasileira à época da Independência. Revista USP, São Paulo, Brasil, n. 132, p. 37–58, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i132p37-58. Disponível em: https://revistas.usp.br/revusp/article/view/196259.. Acesso em: 27 dez. 2024.