O Brasileiro e o seu ego-carro: uma visão sociológica européia sobre o ato de dirigir em um "país do futuro"
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4506.v0i13p75-82Palavras-chave:
transporte, planejamento urbano modernista, cidade brasileiraResumo
O transporte urbano é um tema bastante incomum para uma análise sociológica - não apenas no Brasil. Considera-se o assunto pertencente ao planejamento urbano e não à sociologia. Estabelecer o planejamento urbano modernista como modelo hegemônico após a 2ª Guerra Mundial, tinha o intuito de garantir o fluxo rápido e individual com o carro próprio. Mas, além dessa aproximação funcional, o transporte é também um fato social. O trânsito constitui o espaço público - especialmente no Brasil. Dificilmente podemos observar códigos e condutas sociais em outros lugares que na sociedade brasileira são tão explícitas: a grande diferença de classes e a violência cotidiana. Enquanto sociólogos normalmente se referem à violência como o número crescente de assaltos armados nas cidades brasileiras, este artigo focaliza formas de violência em nível menor: a violência de motoristas de carros contra transeuntes mais fracos nas ruas do País, tais como pedestres, ciclistas e motoqueiros. Com base na metodologia da Sociologia Visual (Gegner 2007), esta abordagem de pesquisa também integra métodos etnográficos na linha de Claude Levi-Strauss (1955). A alienação científica do pesquisador encontra apoio na lacuna cultural entre as tradições urbanas européias e brasileiras. Isso possibilita a discussão crítica de hábitos e circunstâncias que são "normais" para a maioria dos brasileiros e que, portanto, não são sequer questionadas. Assim, o "olho sociológico" (Hughes, 1971) da Escola de Chicago é reforçado pela alienação "natural" do pesquisador. Para os olhos europeus - acostumados a códigos bem diferentes na sociabilidade do trânsito - os hábitos brasileiros nas ruas parecem ser uma violação constante aos direitos humanos, como o direito à integridade pessoal e o direito de viver sem medo. Como o transporte urbano é um espaço social dominante na vida da maioria dos brasileiros, seus efeitos na psique dos indivíduos não podem ser negados. Esse artigo ressalta que agressividade e contra-agressão no trânsito são um sintoma, mas não a causa. Esta está enraizada em problemas estruturais da sociedade brasileira. A explicação hipotética para este "nível menor de violência" está no planejamento urbano modernista. Uma vez que foi implantado de forma mais drástica no Brasil, os efeitos psicológicos dos habitantes também são mais drásticos: combinando a constituição psicológica individual, com base na grande diferença de classes e desigualdade social, os indivíduos de destaque dentro do planejamento modernista, os motoristas de carro, quase não mostram nenhum respeito pelo "outro", comportando-se como "donos" das ruas.Downloads
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