Eu sou um outro: narrativa literária como forma de conhecimento
DOI:
https://doi.org/10.11606/va.v0i29.119439Palavras-chave:
narrativa e medicina, humanização narrativa, identidade narrativa, Graciliano Ramos, José Cardoso PiresResumo
Em “O direito à literatura” (1a ed. 1988), o crítico literário brasileiro Antonio Candido defende que a literatura “é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa ou inconsciente”, e que “é grande o poder humanizador desta construção, enquanto construção” (CANDIDO, 2011, p. 179, itálicos do autor). A visão do crítico, focando especificamente nos estudos literários, relaciona-se a alguns conceitos-chave da filosofia contemporânea, que privilegiam a hermenêutica como exercendo um papel central no processo de conhecimento humano. A partir dessas afirmações e defendendo, com Greenhalgh e Hurwitz, que “alguns episódios de doenças são marcos importantes nas narrativas de vida dos pacientes” (GREENHALGH, HURWITZ, 1999, p. 48, trad. livre) e que “os aspectos formais do texto carregam informações importantes a respeito do universo narrativo [do paciente], informações estas que não se encontram disponíveis no conteúdo do que é representado” (CHARON, 2006, p. 98, trad. livre), este artigo analisa duas narrativas literárias sobre doença (o conto “Paulo, de Graciliano Ramos, e o livro De profundis: valsa lenta, de José Cardoso Pires), em comparação com uma composição curta, escrita pelo jovem L. F., que morreu de um osteossarcoma aos 19 anos, para apontar um padrão relacionado à despersonalização do narrador ou à sua fragmentação em duas ou mais subjetividades, uma delas representativa da parte doente do corpo e/ou do eu. No limite, postula-se, com base na hermenêutica filosófica, o conceito de humanização narrativa.Downloads
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