O Padre José Maurício Nunes Garcia e o mulatismo musical: embranquecimento histórico?
DOI:
https://doi.org/10.11606/rm.v18i1.145563Resumo
A partir de um enfoque antropológico descobriu-se quão necessária foi a figura do Padre mulato para a consolidação do chamado “mulatismo musical” no Brasil e posterior alforria e ascensão do negro dentro da História nacional. Utilizando o ideário de Sérgio Buarque de Holanda de transposição literal de elementos europeus ao Brasil identificamos traços na obra do padre músico que seriam da mesma ordem, ou seja, muitas de suas características foram importadas da Europa diretamente, sem considerar as idiossincrasias nacionais. No entanto, nem por isso elas deixam de ser brasileiras, como afirma Mário de Andrade – a música europeia está, como a africana e a ameríndia, no inconsciente do povo, e transparece na obra de José Maurício com maior ênfase, em todas as suas distintas três fases. Arquétipo nacional do mulato em música, questiona-se, ainda, a sua verdadeira origem: não seria ele realmente um negro embranquecido pela História?
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