Os "Jimbandas" em um Defeito de Cor sob a Perspectiva da Analítica Quare e da Decolonialidade
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i36p116-132Palavras-chave:
jimbandas, gênero, analítica quare, decolonialidade, Ana Maria GonçalvesResumo
O presente estudo tem por objetivo analisar os personagens Jongo e Adriano no romance Um defeito de cor (2006) de Ana Maria Gonçalves, sob a perspectiva da analítica quare, que insere a interseccionalidade no escopo das teorias queer. Ambos são denominados de “jimbandas” pela voz narrativa em primeira pessoa, que os situa no campo das relações homossexuais. Tal palavra parece apresentar um histórico significativo, pois surge já em documentos da Santa Inquisição em suas operações no Brasil colonial. Apesar disso, ela designa um grupo identitário provavelmente ainda pouco visibilizado nos estudos críticos de literatura brasileira. Nesse sentido, a obra de Gonçalves presentifica o debate acerca das vivências homossexuais de africanos em diáspora, evidenciando o modo como a política regulatória de corpos de um país patriarcal-cristão colocava sob vigilância sexualidades e expressões de gênero dissidentes. A partir da abordagem da decolonialidade, este trabalho também pretende apresentar certo giro epistêmico, inserindo o sujeito dissidente como produtor de um discurso científico corpo-geolocalizado.
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