Em perigo/perigoso: racismo esquemático e paranoia branca
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1517-97022020460100302Palavras-chave:
Racismo, Violência policial, Levantes urbanos, Imagem, BranquitudeResumo
Originalmente, o texto foi publicado em 1993, como capítulo do livro editado por Robert Gooding-Williams, dedicado à análise dos acontecimentos desdobrados a partir do espancamento de Rodney King, um homem negro de 27 anos, por policiais brancos, em março de 1991, na cidade de Los Angeles. A violência foi registrada em vídeo e gerou indignação pública, tornando possível que quatro policiais fossem indiciados criminalmente. Levados a júri, todos foram absolvidos, o que desencadeou um ciclo de protestos ao longo de quase uma semana; duramente reprimidos pela mesma força policial que se lançou sobre Rodney King, deixaram mais de sessenta mortos e mais de dois mil feridos. A contribuição de Judith Butler se dedica a compreender como foi possível que acusação e defesa tenham, ambas, recorrido à gravação. Como um mesmo conjunto de imagens pôde ter sido “visto” como demonstração da violência policial e como sua justificativa? A autora identifica a existência de um campo de visibilidade racialmente saturado, que circunscreve a percepção de pessoas que se compreendem enquanto brancas, cuja identidade se sustenta na projeção da violência sobre o outro racializado enquanto negro. Nesse sentido, a absolvição se torna compreensível como efeito de uma episteme racista, que toma o corpo masculino negro de Rodney King como origem e razão da violência que lhe foi impingida, isentando os policiais de responsabilidade. Daí a importância estratégica do ato público de ler e reler tais imagens, postas a funcionar num enquadramento que se sustenta num regime racista de produção e distribuição das imagens, que frequentemente concentra as possibilidades de torná-las legíveis.
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