Currículos nortistas reestruturados pela Base Nacional Comum Curricular: a (não) subversão do eurocentrismo e do sudestecentrismo
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202551286839Palavras-chave:
Currículos nortistas, BNCC, Relações étnico-raciais, Pedagogia crítica, DecolonialidadeResumo
Este artigo pretende analisar a possível subversão do eurocentrismo e do sudestecentrismo encaminhados pela Base Nacional Comum Curricular nos currículos amazônicos, quais sejam: as diretrizes curriculares dos estados da região Norte. A análise se debruça sobre os documentos curriculares que estruturam a educação dos estados nortistas, principalmente no ensino de História, conformado por tais documentos e sua relação com a educação para as relações étnico-raciais, o que inclui a análise da natureza da agência dos povos indígenas, africanos e amazônicos, suas histórias e identidades. Para tanto, acionam-se os conceitos de “poder simbólico, currículo e análise de conteúdo”. Constata-se, a partir da análise dos sete documentos curriculares, que os currículos nortistas, em diversas medidas, seguem a Base Nacional Comum Curricular no encaminhamento da temática étnico-racial, com a subordinação da diversidade amazônica ao eurocentrismo e ao sudestecentrismo, que se tornam pilares da padronização neoliberal e neoconservadora da Base. Os currículos nortistas analisados corroboram um colonialismo interno promovido pela Região Sudeste com base em uma tradição seletiva, o que instaura uma violência simbólica contra a cultura, a diversidade e a história da região amazônica. Assim, essas diretrizes curriculares estaduais não cumprem sua função, isto é, garantir que 40% do currículo seja composto por uma parte diversificada. Ao invés disso, essa parte, que também abarca a temática étnico-racial, é composta por um espaço diminuto e que se resume a uma abordagem superficial e burocrática da diversidade amazônica.
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