Quando o trunfo se revela um fardo: reexaminando os percalços de um campo disciplinar que se pretendeu uma ponte entre o conhecimento da natureza e o da sociedade
DOI :
https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2018.147381Mots-clés :
Epistemologia da Geografia, História da Geografia, Natureza e sociedade, Geografia Ambiental, Ecologia Política.Résumé
Do “desenvolvimento sustentável” à “mudança climática global”, passando por problemas ambientais os mais diversos, os vínculos entre “natureza” e sociedade” parecem estar na ordem do dia. Diante desse quadro, poder-se-ia pensar que os geógrafos deveriam ter muito a dizer sobre os desafios que se colocam para tanta gente pelo planeta afora; afinal de contas, a Geografia traz, no cerne de sua identidade e como uma de suas tradições mais inconfundíveis, a pretensão de promover uma ponte entre o estudo da natureza e o estudo da sociedade. No entanto, curiosamente, justo na hora presente, a maioria dos geógrafos dá a impressão de ter desertado daquele tipo de debate. Poucos são os que parecem ainda acreditar valer a pena investir no diálogo de saberes simbolizado pelo ideal de uma “ciência-ponte”. Como se chegou a essa situação? Seria ela irreversível, mesmo que só parcialmente? Em caso afirmativo, em que termos? Com uma potência provavelmente ímpar, o discurso geográfico pode, a despeito de suas debilidades e de seus impasses contemporâneos, demonstrar o quanto os vocábulos “natureza” e “sociedade”, por mais incontornáveis que sejam, possuem conteúdos inescapavelmente relacionais, não precisando corroborar nenhum pensamento dualista. De várias maneiras, talvez a relevância e o prestígio da Geografia dependam, em grau crescente, de os geógrafos saberem voltar a explorar tal potencial, valorizando temas e problemas “híbridos”, ainda que decerto em novas bases epistemológicas e teóricas.
##plugins.themes.default.displayStats.downloads##
Références
ALIMONDA, H.; TORO PEREZ, C.; MARTIN, F. (Orgs.) Ecología Política latinoamericana: pensamiento crítico, diferencia latinoamericana y rearticulación epistémica. Buenos Aires/Cidade do México: Clacso/Universidad Autónoma Metropolitana, 2017. 2 v.
BEROUTCHACHVILI, N.; BERTRAND, G. Le géosystème ou “système territorial naturel”. Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, v. 49, n. 2, p. 167-180, 1978.
BERTRAND, G. Paysage et géographie physique globale: esquisse méthodologique. Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, v. 39, n. 3, p. 249-272, 1968.
BLAIKIE, P.; BROOKFIELD, H. (Orgs.). Land Degradation and Society. Londres/Nova Iorque: Methuen, 1987.
BOOKCHIN, M. What is Social Ecology? In: Social Ecology and Communalism. Oakland/Edimburgo: AK Press, 2007 [1993, revisado em 1996 e 2001]. p. 19-52.
BOOKCHIN, M. The Ecology of Freedom: The Emergence and Dissolution of Hierarchy. Oakland/Edimburgo: AK Press, 2005 [1982].
BOOKCHIN, M. Post-Scarcity Anarchism. 3a. ed. Edimburgo/Oakland: AK Press, 2004 [1971; os ensaios originais foram escritos entre 1965 e 1970].
BOSQUET, M. [André Gorz]. Écologie et politique. Paris: Seuil, 1978.
BROC, N.; GIUSTI, C. Autour du Traité de Géographie physique d’Emmanuel de Martonne: du vocabulaire géographique aux théories en géomorphologie. Géomorphologie: Relief, Processus, Environnement, v. 13, n. 2, p. 125-144, 2007.
BRUNHES, J. La géographie humaine: essai de classi!cation positive, principes et exemples. Paris: Félix Akan, 1910.
BRYANT, R. L. (Org.). The International Handbook of Political Ecology. Cheltenham, UK/Northampton, MA: Edward Elgar, 2015.
CASTORIADIS, C. Science moderne et interrogation philosophique. In: Les carrefours du labyrinthe. Paris: Seuil, 1978. p. 191-285.
CASTREE, N. Nature. Abingdon: Routledge, 2005.
CASTREE, N. Nature.; DEMERITT, D.; LIVERMAN, D.; RHOADS, B. (Orgs.). A Companion to Environmental Geography. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2009.
DE MARTONNE, E. Traité de géographie physique. 2a. ed., rev., aum. Paris: Armand Colin, 1913[1909]. (Consultei igualmente a tradução espanhola, baseada na sétima edição francesa: Tratado de Geografía Física, em três volumes, publicada em Barcelona, pela Editorial Juventud, em 1973.)
ENZENSBERGER, H. M. Zur Kritik der politischen Ökologie. In: Palaver: Politische Überlegungen (1967-1973). Frankfurt (Meno): Suhrkamp, 1974[1973]. p. 169-232.
FINKE, L. Landschaftsökologie. Braunschweig: Höller und Zwick, 1986.
KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985[1963].
LA BLACHE, P. V. La France de l’Est. Paris: La Découverte, 1994[1917].
LA BLACHE, P. V. Las divisiones fundamentales del territorio francés. In: Mendoza, J. G. et al. (Orgs.). El pensamiento geográ!co: estudio interpretativo y antología de textos (de Humboldt a las tendencias radicales). Madrid: Alianza, 1982 [1888-1889].
LA BLACHE, P. V. Principes de géographie humaine. Paris: Armand Colin, 1922[1905-1918].
LA BLACHE, P. V. Des caractères distinctifs de la géographie. Annales de Géographie, v. 22, n. 124, p. 189-299, 1913.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994[1991].
MAINAR, C. V.; SOURP, R. La dif!cile prise en charge de l’interface nature-société dans la géographie scolaire française: l’échec de l’introduction du concept de géosystème. L’Information Géographique, v. 70, n. 3, p. 16-32, 2006.
MORIN, E. La méthode. Paris: Seuil, 2008[1977-2006]. 2 v.
PATTISON, W. D. The four traditions of geography. Journal of Geography, v. 89, n. 5, p. 202-206, 1990[1964].
PEET, R.; WATTS, M. (Orgs.). Liberation Ecologies: Environment, Development, Social Movements. 2a. ed. Londres/Nova Iorque: Routledge, 2004[1996].
PORTO-GONÇALVES, C. W. Os (des)caminhos do meio ambiente. 15a. ed. São Paulo: Contexto, 2014[1989].
PORTO-GONÇALVES, C. W. O desa!o ambiental. 4a. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2013[2004].
PORTO-GONÇALVES, C. W. Paixão da Terra: ensaios críticos de ecologia e Geogra!a. Rio de Janeiro: Rocco/Socii, 1984.
RECLUS, E. L’Homme et la Terre. Paris: Librairie Universelle, 1905-1908. 6 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr. Acesso em: 4 jul. 2018.
RECLUS, E. La grande famille. Le Magazine International, p. 8-12, 1898. Disponível em: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k660250.r=reclus.langPT. Acesso em: 4 jul. 2018.
RECLUS, E. La Terre et les Hommes. Nouvelle Géographie Universelle. Paris: Hachette, 1876-1894. 19 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr.18 Acesso em: 4 jul. 2018.
RECLUS, E. La Terre : Description des phénomènes de la vie du globe. Paris: Hachette, 1868-1869. 2 v. Disponível em: http://gallica.bnf.fr. Acesso em: 4 jul. 2018.
RECLUS, E. L’Homme et la Nature: de l’action humaine sur la géographie physique. Revue des Deux Mondes v. 54, p. 762-771, 1864.
RITTER, C. Allgemeine Erdkunde: Vorlesungen an der Universität zu Berlin gehalten. Berlim: Georg Reimer, 1862.
ROBBINS, P. Political Ecology: A Critical Introduction. 2a. ed. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2012[2004].
ROSA, L. P. Tecnociências e humanidades: novos paradigmas, velhas questões. São Paulo: Paz e Terra, 2005-2006. 2 v.
SNOW, C. P. The Two Cultures and the Scienti c Revolution. Nova Iorque: Cambridge University Press, 1961[1959].
SOUZA, M. L. de Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
SOUZA, M. L. Consiliência ou bipolarização epistemológica? Sobre o persistente fosso entre as ciências da natureza e as da sociedade − e o papel dos geógrafos. In: SPOSITO, E. S.; SILVA, C. A.; SANT’ANNA NETO, J. L.; MELAZZO, E. S. (Orgs.). A diversidade da Geogra a brasileira: escalas e dimensões da análise e da ação. Rio de Janeiro: Consequência, 2016. v. 1. p. 13-56.
TRICART, J. Écogéographie des espaces ruraux. Paris: Nathan, 1994.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE-Supren, 1977.
TRICART, J. La Terre, planète vivante. Paris: Presses Universitaires de France, 1972.
TRICART, J; KILIAN, J. L’éco-géographie et l’aménagement du milieu naturel. Paris: François Maspéro, 1979. (Collection Hérodote.)
TROLL, C. Luftbildplan und ökologische Bodenforschung: Ihr zweckmässiger Einsatz für die wissenschaftliche Erforschung und praktische Erschliessung wenig bekannter Länder. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden:
Franz Steiner, 1966a [1939].
TROLL, C. Methoden der Luftbildforschung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966b [1942].
TROLL, C. Die wissenschaftliche Luftbildforschung als Wegbereiterin kolonialer Erschliessung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966c [1942].
TROLL, C. Fortschritte der wissenschaftlichen Luftbildforschung. In: Luftbildforschung und landeskundliche Forschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966d [1943].
TROLL, C. Die geographische Landschaft und ihre Erforschung. In: Ökologische Land-schaftsforschung und vergleichende Hochgebirgsforschung . . Wiesbaden: Franz Steiner, 1966e [1950].
TROLL, C. Landschaftsökologie als geographisch-synoptoische Naturbetrachtung. In: Ökologische Landschaftsforschung und vergleichende Hochgebirgsforschung. Wiesbaden: Franz Steiner, 1966f [1963].
TROLL, C. Über Landschafts-Sukzession. In:Ökologische Landschaftsforschung Wiesbaden: Franz Steiner, 1966g [1963].
VALVERDE, O. Grande Carajás: planejamento da destruição. Rio de Janeiro/São Paulo/Brasília: Forense Universitária/Edusp/Ed. UnB, 1989.
VON HUMBOLDT, A. Kosmos: Entwurf einer physischen Weltbeschreibung. Frankfurt (Meno): Eichborn, 2004[1845-1958, 1862]. (Edição organizada por Ottmar Ette e Oliver Lubrich.)
VON HUMBOLDT, A. Versuch über den politischen Zustand des Königreichs Neu-Spanien" Tübingen: J. G. Cotta, 1813.
WOLF, E. Ownership and political ecology. Anthropological Quarterly, v. 45, n. 3, p. 201-205, 1972.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Copyright Marcelo Lopes de Souza 2018

Ce travail est disponible sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International .
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho com licença de uso da atribuição CC-BY, que permite distribuir, remixar, adaptar e criar com base no seu trabalho desde que se confira o devido crédito autoral, da maneira especificada por CS.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou em sua página pessoal) a qualquer altura antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).