Militarização importa: ressonâncias retóricas e mercado do militarismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/nkw7pa58

Palavras-chave:

gestão, marketing, materialismo, resistência, seguraça comercial

Resumo

“Militarização não é o problema” foi o título de uma recente conferência realizada por Mark Neocleous. Muitos acadêmicos em estudos críticos de segurança compartilham essa mensagem. Pesquisadores deveriam evitar um conceito que faz mais mal do que bem. Deveriam “esquecer a militarização”, como diz Alison Howell. Embora compartilhando a preocupação de que o termo possa desviar a atenção da violência policial e do racismo epistêmico que sustentam tais conclusões, este artigo argumenta que, apesar disso, pode valer a pena preservar o termo militarização, porque ele também traz uma importância política e analítica que precisa ser preservada, se não fortalecida. Recuperando o que Frazer e Hutchings chamam de “ressonância retórica”, sugiro que o termo “militarização” ressoa com debates, classificações discursivas e atmosferas,  fornecendo-nos uma melhor compreensão do militarismo de mercado contemporâneo, capilar, em suas muitas formas de mutação. Descartar a militarização é abrir mão de aberturas analíticas e sintonia política. Eu desdobro esse argumento com enfoque sobre as ressonâncias da militarização com os processos de mercado difundindo e aprofundando o domínio das preocupações militares e desmobilizando a resistência. As ressonâncias da militarização tornam a administração, a comercialização e a materialização da segurança em infraestruturas menos inócuas e, portanto, perturbam a desmobilização da resistência que as facilita. As ressonâncias da “militarização” quebram o silêncio em torno do militarismo de mercado, os processos que o geram e a imbricação de práticas de conhecimento (incluindo pesquisas acadêmicas) com eles. A militarização, portanto, importa mesmo quando está em tensão com o racismo epistêmico e a violência policial. Portanto, aprofundar o engajamento com a militarização, para transformá-la, tem importância analítica e política.

Biografia do Autor

  • Anna Leander, Geneva Graduate Institute

    Doutora em Ciências Sociais e Políticas, Professora do Departamento de Relações Internacionais e Ciência Política, Geneva Graduate Institute, Genebra, Suíça, e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

  • Apoena Mano, Universidade de São Paulo

    Doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Bolsista de Doutorado FAPESP

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Publicado

2024-07-24

Edição

Seção

Dossiê "Cidades em Guerra: velhas e novas expressões do conflito urbano": Traduções

Como Citar

Leander, A. (2024). Militarização importa: ressonâncias retóricas e mercado do militarismo (A. Mano , Trad.). Ponto Urbe, 32(1), e226665. https://doi.org/10.11606/nkw7pa58