Seetha, a serpente, a tumba, tiki pop and surf rock: o “Orientalismo” na trilha musical
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2238-7625.rm.2025.236541Palavras-chave:
Orientalismo, Trilha sonora, Sepulcro indiano, MisirlouResumo
Este artigo analisa a representação do Oriente na cultura midiática ocidental por meio da música tomando, como estudo de caso, a cena da dança de Seetha no filme Sepulcro Indiano (Fritz Lang, 1959). A trilha original faz uso de arranjos orquestrais associados ao exotismo para construir uma paisagem sonora que evoca mistério e sensualidade. A análise se apoia no conceito de contrato audiovisual de Chion (1990), revelando como som e imagem se articulam para produzir sentido. Em contraponto, a substituição da trilha por Misirlou, em arranjo de Martin Denny, insere a estética tiki pop e altera significativamente a atmosfera da cena, esvaziando sua dramaticidade e intensificando o aspecto kitsch. O artigo aborda como o "Oriente" é sistematicamente representado como exótico, de forma estereotipada, pelo viés do Ocidente. Apoiado na semiótica da cultura de Iuri Lotman (1981), considera-se a incorporação da canção Misirlou como exemplo de “movência” da obra (Zumthor, 2005), possibilitando a incorporação de extrínsecos a uma dada cultura. A persistente estetização do exótico, em contextos midiáticos, cria paisagens sonoras que, embora descontextualizadas, permanecem no imaginário ocidental. Tendo como referenciais teóricos, os conceitos de tópicas musicais, canção das mídias, nomadismo, pergunta-se: Que elementos estão nelas presentes que levam ao conceito assimilado pelo imaginário do ouvido ocidental, elaborado pelos arranjadores? A presença de elementos capturados –e filtrados- pela cultura do Ocidente, mantêm-se como componentes de um “Oriente” genérico e impreciso: a adoção da escala Hijaz (frígio dominante) e timbres específicos apontam que sistemas modais ainda causam estranhamento, dada a falta de hábito de escuta.
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