Dossiê Dramaturgias contemporâneas: o coletivo emancipado e a dimensão crítica da realidade, VIA ATLÂNTICA v. 28, n 1 (2027)
No Brasil, a palavra dramaturgia ainda é frequentemente utilizada para se designar o texto teatral, mesmo que seu conceito venha se modificando e se expandindo juntamente com as transformações dos preceitos que a regem (Oliveira, 2013), ou mesmo diante da crise observada em torno das reinvenções contemporâneas dos vínculos entre o texto, o palco e o mundo. Definida a partir do modelo teatral como a passagem do pensamento para a cena (Dort, 1986), ou ainda da conexão entre ação, teatro e pensamento (Danan, 2010), a dramaturgia passa a ser incluída e reivindicada dentro e fora do teatro em obras que não necessariamente fazem do texto seu centro de gravidade, “portanto, ao menos contemporaneamente, não deveria ser vista como categoria fixa por ser tão frequentemente implantada por praticantes de teatro em diferentes tipos de combinações híbridas” (Thürler, 2023, p. 154).
Por essa razão, parece importante abordar, de forma extensiva e transversal, a diversidade das dramaturgias contemporânea em Língua Portuguesa (2000-2020), complexas e variadas, tanto em termos de temas quanto de abordagens de escrita, que renegociam a compreensão da estética contemporânea, para dar a conhecer autores plurais e, obviamente, singulares nas suas abordagens e processos de criação.
Para este dossiê da revista Via Atlântica, esperamos receber contribuições acadêmicas rigorosas – especialmente inflexões interdisciplinares – sobre amplo espectro de abordagens da produção contemporânea, que não necessariamente tenham relação com o palco, incluindo leituras críticas de peças de teatro convencional dramático e pós-dramático; dança-teatro; performance; teledramaturgia; roteiros de performance, cinema e streamings, reels, sketches para plataformas sociais etc. As contribuições devem abordar aspectos históricos, políticos, formais, teóricos e metodológicos, com ênfase na análise de novas políticas de subjetivação – sub-representadas ou marginalizadas – enquanto estratégias coletivas de emancipação, fundamentadas em suas condições históricas, sociais, culturais e políticas de produção.
O dossiê acolherá contribuições que se enquadrem nos seguintes eixos temáticos (não exclusivos):
- Tecnologias Digitais e Novas Formas de Narrativa: Investigações sobre o impacto das tecnologias digitais na produção dramatúrgica, incluindo a análise de obras criadas para plataformas online (streaming, redes sociais), a hibridização de linguagens e as novas formas de interação com o público.
- Estéticas Híbridas e Interdisciplinaridade: Reflexões sobre as fronteiras fluidas entre as diferentes formas de dramaturgia (teatro, dança-teatro, performance, audiovisual) e a incorporação de outras áreas do conhecimento, como a literatura, as artes visuais, a música e os estudos culturais.
- Linguagens e Inovações Formais: Estudos que se concentrem nas experimentações com a linguagem, nas novas formas de escrita dramática e nos desafios e possibilidades estéticas das dramaturgias contemporâneas.
- Dramaturgias e Contextos Locais/Globais: Análises que considerem as especificidades dos contextos de produção em diferentes regiões de língua portuguesa e as relações entre as dramaturgias locais e as dinâmicas globais.
- Memória, Trauma e Reconstrução do Passado: Estudos que abordem como as dramaturgias contemporâneas revisitam o passado, lidam com traumas históricos e sociais, e propõem novas narrativas para a construção da memória coletiva.
- Políticas da Representação e Emancipação Coletiva: Análises focadas nas estratégias de representação de grupos marginalizados e nas formas como as dramaturgias podem contribuir para processos de emancipação social e política, questionando estruturas de poder e desigualdade.
- Corpo, Identidade e Resistência: Análises que explorem como as dramaturgias contemporâneas representam corpos dissidentes, identidades fluidas e as diversas formas de resistência política e social. Isso pode incluir discussões sobre gênero, sexualidade, raça, etnia, classe, deficiência, entre outros marcadores de diferença.
Referências
DANAN, Joseph. Mutações da dramaturgia tentativa de enquadramento (ou de desquadramento). Tradução: José Tonezzi. Moringa: Teatro e Dança, vol. 1, n. 1, 117-123, janeiro de 2010
DORT, Bernard. L’État d’esprit dramaturgique. Théâtre / Public, n. 67, Revue du théâtre de Gennevilliers, janvier-février 1986.
OLIVEIRA, Lígia Souza. Personne: Alguém ou Ninguém? A condição do personagem na obra “Vocês que habitam o tempo”, de Valère Novarina. [Dissertação]. Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-graduação em Letras, 2013.
THÜRLER, Djalma. A monstruosa normalidade em “A desafortunada história do romance de Julieta e Romeu”. Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural, Alagoinhas-BA: Laboratório de Edição Fábrica de Letras - UNEB, v. 13, n. 3, p. 149–164, 2023. https://doi.org/10.30620/pdi.v13n3.p149
Organizadores:
Djalma Thürler (UFBA)
Duda Woyda (CNPq/UFBA)
Flavia Corradin (USP)
Helder Thiago Maia (Universidade de Lisboa)
Prazo para o envio dos trabalhos: 30 de novembro de 2025.
Data prevista para a publicação: 30 de abril de 2027.
SEÇÃO OUTROS TEXTOS
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