Refletindo diferenças: virada ontológica e questões etnográficas
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v30i2pe181847Palavras-chave:
Virada ontológica, Teoria antropológica, Alteridade, DiferençaResumo
Um conjunto recente de antropólogos tem argumentado a favor do que ficou conhecido como “virada ontológica” a fim de dar conta dos problemas epistemológicos enfrentados pela relação entre materiais etnográficos e conceitos analíticos. De acordo com os autores, a virada ontológica é uma tecnologia de descrição que leva a diferença realmente a sério e permite que os materiais etnográficos ditem as regras de nossas reflexões. A leitura que proponho aqui interroga se a antropologia orientada pela virada ontológica não estaria levando a sério demais seus pressupostos teóricos, em vez de valorizar a própria etnografia. Assim, embora a abordagem traga novos tópicos de discussões relevantes, ela ainda apresenta diversos problemas internos em termos de procedimentos que os proponentes não parecem estar atentos. Concluo, portanto, que a virada ontológica apresenta novas questões a serem orientadas aos antropólogos, mas não esgota a etnografia.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Mauro. 2013. Caipora e outros conflitos ontológicos. In: R@U, v.1: p. 7-28.
AMANTE, Victor. 2019. Tradição ou invenção: a projeção do perspectivismo ameríndio no cenário de sua crítica e da virada ontológica. Monografia (Graduação em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
BESSIRE, Lucas; BOND, David. 2014. Ontological anthropology and the deferral of critique. In: American Ethnologist, v. 41, n. 3: p.440-456. DOI https://doi.org/10.1111/amet.12083
BOWKER; Geoffrey; STAR, Susan. 2000. Sorting things out: classification and its consequences. Cambridge: MIT Press.
CANDEA, Matei. Endo/exo. 2011. In: Common knowledge, vol.17, n.1: p.146-150. DOI https://doi.org/10.1215/0961754X-2010-046
CLIFFORD, James; MARCUS, George. 1986. Writing culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: University of California Press.
CORRÊA, Mariza. 2013. Traficantes do simbólico e outros ensaios sobre a história da antropologia. Campinas: Editora da UNICAMP.
DE LA CADENA, Marisol; BLASER, Mario. 2018. A world of many worlds. Durham: Duke University Press.
GRAEBER, David. 2015. Radical alterity is just another way of saying "reality": A reply to Eduardo Viveiros de Castro. In: HAU, vol.5, n.2: p.1-41. DOI https://doi.org/10.14318/hau5.2.003
HALLOWELL, Alfred. 1960. Ojibwa ontology, behavior and word view. In: DIAMOND, Stanley (Ed.). Culture in History: essays in honor of Paul Radin. New York: Columbia University Press, p.19-52.
HENARE, Amiria, HOLBRAAD, Martin; WASTELL, Sari. 2007. Thinking through things: theorizing artefacts ethnographically. New York: Routledge.
HEYWOOD, Paolo. 2012. Anthropology and what there is: reflections on ‘ontology’. In: The Cambridge Journal of Anthropology, v.30, n.1: p.143-151. DOI https://doi.org/10.3167/ca.2012.300112
HOLBRAAD, Martin. 2009. Ontography and Alterity: defining anthropological truth. In: Social Analysis, vol.53, n.2: p.80-93. DOI https://doi.org/10.3167/sa.2009.530205
HOLBRAAD, Martin; PEDERSEN, Morten. 2017. The ontological turn: an anthropological exposition. Cambridge: Cambridge University Press.
KOHN, Eduardo. 2013. How Forests Think: Toward An Anthropology Beyond the Human. Berkeley: University of California Press.
_______. 2015. Anthropology of ontologies. In: Annual Review of Anthropology, vol.44: p.311-327. DOI https://doi.org/10.1146/annurev-anthro-102214-014127
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2019. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras.
LAIDLAW, James. 2012. Ontologically challenged. Anthropology of This Century, vol.4.
LAIDLAW, James; HEYWOOD, Paolo. 2013. One more turn and you’re there. Anthropology of This Century, vol.7.
LATOUR, Bruno. 2005. Reassembling the social: an introduction to Actor-Network Theory. Oxford: Oxford University Press.
LAW, John. 2004. After method: mess in social science research. London and New York: Routledge.
LEBNER, Ashley. 2017. Redescribing relations: strathernian conversations on ethnography, knowledge and politics. New York: Berghahn Books.
MALINOWSKI, Bronislaw. 2018 [1922]. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Ubu Editora.
MOL, Annemarie. 1999. Ontological politics: a word and some questions. In: The Sociological Review, vol.47, n.1: p.74-89. DOI https://doi.org/10.1111%2Fj.1467-954X.1999.tb03483.x
_______. 2002. The body multiple: ontology in medical practice. Durham: Duke University Press.
MOSKO, Mark. 2017. Ways of Baloma: Rethinking magic and kinship from the Trobriands. Chicago: Hau Books.
PACHECO DE OLIVEIRA, João. 1998. Uma etnologia dos ‘índios misturados’? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais”. In: Mana, vol.4, n.1: p.47-77. DOI https://doi.org/10.1590/S0104-93131998000100003
PEDERSEN, Morten. 2012. Common nonsense: a review of certain recent reviews of the ‘ontological turn’. Anthropology of This Century, v. 5.
RAMOS, Alcida. 2012. The Politics of Perspectivism. In: Annual Review of Anthropology, v. 41, n. 1, pp. 481-494. DOI https://doi.org/10.1146/annurev-anthro-092611-145950
RIBEIRO, Gustavo; ESCOBAR, Artur. 2012. Antropologias mundiais: transformações da disciplina em sistemas de poder. Brasília: Editora da UnB.
STRATHERN, Marilyn. 2004. Partial connections. Update edition. Walnut Creek: Altamira Press.
_______. 2017[1980]. Sem natureza, sem cultura: o caso Hagen. In: STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Ubu Editora, p.23-78.
TODD, Zoe. 2016. An Indigenous Feminist's Take On The Ontological Turn: 'Ontology' Is Just Another Word For Colonialism. In: Journal of Historical Sociology, vol.29, n.1: p.4-22. DOI https://doi.org/10.1111/johs.12124
VIGH, Henrik; SAUSDAL, David. 2014. From essence back to existence: Anthropology beyond the ontological turn. In: Anthropological Theory, vol.4, n.1: p.49-73. DOI https://doi.org/10.1177%2F1463499614524401
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1992. O mármore e a murta. In: Revista de Antropologia, vol.35: p.21-74. DOI https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1992.111318
_______. 2002. O nativo relativo. In: Mana, vol.8, n.1: p.113-148. DOI http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132002000100005
_______. 2004. Perspectival anthropology and the method of controlled equivocation. Tipití, vol.2, n.1: p.3-22.
_______. 2012. ‘Transformação’ na antropologia, transformação da ‘antropologia’. In: Mana, vol.18, n.1: p.151-171. DOI https://doi.org/10.1590/S0104-93132012000100006
_______. 2015. Who is Afraid of the Ontological Wolf? Some comments on an Ongoing Anthropological Debate. In: The Cambridge Journal of Anthropology, vol.33, n.1: p.2-17. DOI https://doi.org/10.3167/ca.2015.330102
_______. 2017. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: _______. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Ubu Editora, p.301-346.
_______. 2018. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições.
WAGNER, Roy. 2017 [1975]. A invenção da cultura. São Paulo: Ubu Editora.
WILLERSLEV, Rane. 2013. Taking Animism Seriously, but Perhaps Not Too Seriously? Religion & Society, vol.4, n.1: p.41-57. DOI https://doi.org/10.3167/arrs.2013.040103
WINNER, Langdon. 1980. Do artifacts have politics? In: Daedalus, vol.109, n.1: p.121-136. DOI https://doi.org/10.4324/9781315259697-21
WOOLGAR, Steve; LEZAUN, Javier. 2013. The wrong big bag: A turn to ontology in science and technology studies? In: Social Studies of Science, vol.43, n.3: p.321-340. DOI https://doi.org/10.1177/0306312713488820
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Cadernos de Campo (São Paulo - 1991)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autorizo a Cadernos de Campo - Revista dos Alunos de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (PPGAS-USP) a publicar o trabalho (Artigo, Ensaio, Resenha, Tradução, Entrevista, Arte ou Informe) de minha autoria/responsabilidade assim como me responsabilizo pelo uso das imagens, caso seja aceito para a publicação.
Eu concordo a presente declaração como expressão absoluta da verdade, também me responsabilizo integralmente, em meu nome e de eventuais co-autores, pelo material apresentado.
Atesto o ineditismo do trabalho enviado.
Como Citar
Dados de financiamento
-
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Números do Financiamento 19/04868-1