Floresta de flautas: interações multiespecíficas entre plantas, espíritos, humanos e os aerofones iyamaka
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v32i2pe214335Palavras-chave:
Paresi Haliti, aerofones indígenas, taquara, contradomesticação, mutualismoResumo
Este artigo oferece uma abordagem sobre as taquaras iyana e os fluxos desta planta nos mundos do povo Haliti Paresi do Mato Grosso e na construção de suas estruturas sociais e musicais. Os caminhos da taquara desenham redes de interação entre plantas, espíritos, humanos e o conjunto de aerofones denominados genericamente iyamaka, flautas ou simplesmente jararacas. Esse feixe de relações multiespecíficas opera transformações nos corpos das taquaras e em sua notável diversidade ontológica e sonora quando se metamorfoseiam em poderosos instrumentos de sopro. Sobre esse processo, marcado por um regime cosmopolítico cercado de cuidados e intenções, pretende-se argumentar que os circuitos transformativos e performativos das iyana – como caminhos que atravessam e revolvem tempos e espaços de uma geografia cósmica – se fazem por meio de negociações e seduções sistematizadas em estratégias relacionais como a contradomesticação e o mutualismo assimétrico, nas quais implicam a luz do dia e a escuridão da noite.
Downloads
Referências
AIKHENVALD, A. Y. 1999. “The Arawak language family”. In The Amazonian languages, editado por Robert M. W. DIXON; Alexandra Y. AIKHENVALD, 65-106. Cambridge: Cambridge University Press.
APARÍCIO, Miguel. 2019. “Contradomesticação na Amazônia Indígena: a botânica da precaução”. In Vozes vegetais: diversidade, resistências e histórias da floresta. Organizado por Joana CABRAL DE OLIVEIRA; Marta AMOROSO; Ana Gabriela M. DE LIMA; Karen SHIRATORI; Stelio MARRAS; Laure EMPRERAIRE, 189-212. São Paulo: UBU.
BEAUDET, J-M. 1997. Souffles d’Amazonie: les orchestres ‘tule’ des Wayãmpi. Nanterre: Société d’Ethnologie.
BOURDIEU, P. 1999. “A casa cabyle ou o mundo às avessas”. Cadernos de Campo, IX, no.8: 147-159.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 2019. “Antidomestication in the Amazon Swidden and its foes”. Hau – Journal of Etnhographic Theory, 9 (1): 126–136.
HALL, Matthew. 2011. Plants as Persons: A Philsophical Botany. Albany, NY: Suny Press.
HARAWAY, Donna. 2003. The Companion Species Manifesto: Dogs, People, and Significant Otherness. Chicago: Prickly Paradigm Press.
JANZEN, D. H. 1969. “Allelopathy by myrmecophytes: the ant Azteca as an allelopathic agent of Cecropia”. Ecology, 50, no.1: 147-153.
LÉVI-STRAUSS, Claude. n.d. Estruturalismo e Ecologia. In O Olhar Distanciado, 149-173. Lisboa: Edições 70.
MENEZES BASTOS, R. J. de. 2006. “Leonardo, a flauta: uns sentimentos selvagens”. Revista de Antropologia, 49, no.2: 557-579.
PEREIRA, Adalberto H. 1986. “O Pensamento Mítico do Paresí” – primeira parte. Pesquisas - Antropologia, 41: 5-441. Instituto Anchietano de Pesquisas, São Leopoldo.
PEREIRA, Adalberto H. 1987. “O Pensamento Mítico do Paresí” – segunda parte. Pesquisas – Antropologia, 42: 447-841. Instituto Anchietano de Pesquisas, São Leopoldo.
PIEDADE, Acácio T. de C. 1999. “Flautas e trompetes sagrados do noroeste amazônico”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 5, no.11: 93-118.
RONDON, Cândido M. da S.; FARIA, João Barbosa. 1948. Esboço Gramatical; vocabulário: lendas e cânticos dos Índios Ariti (Parici). Anexo n.5 – Etnografia. Conselho Nacional de Proteção aos Índios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. 1917. “Rondonia – anthropologia, ethnographia”. (1ª edição). Coleção Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, v.20. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.
SAHA, Sonali; HOWE, Henry F. 2001. “The Bamboo Fire Cycle Hypothesis: A Comment”. The American Naturalist, 158, no.6: 659-663. The University of Chicago Press for The American Society of Naturalists.
SALLES, Pedro Paulo. 2017. “Nozani-ná e as flautas secretas dos homens-da-água: cosmologia e tradução de um canto paresi”. In Villa-Lobos, um compêndio: novos desafios interpretativos, organizado por Paulo de Tarso SALLES; Norton DUDEQUE, 41-125. Curitiba: UFPR.
SCOTT, James C. 2017. Against the grain: a deep history of the earliest states. New Haven: Yale University Press.
SEEGER, Anthony. 1987. “Novos horizontes na classificação dos instrumentos musicais”. Suma Etnológica Brasileira, 3 - Arte Índia, coordenado por Berta G. RIBEIRO, 173-179. Petrópolis: Vozes/Finep.
TSING, Anna L. 2012. “Unruly Edges: Mushrooms as Companinon Species”. Environmental Humanities, n.1: 141-154.
VAN DOOREN, T. 2012. “Wild Seed, Domesticated Seed: companion species and the emergence of agriculture”. PAN-Philosophy, Activism, Nature, no.9: 22-28.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2015. Metafísicas canibais. São Paulo: Cosac Naify.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Cadernos de Campo (São Paulo - 1991)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autorizo a Cadernos de Campo - Revista dos Alunos de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (PPGAS-USP) a publicar o trabalho (Artigo, Ensaio, Resenha, Tradução, Entrevista, Arte ou Informe) de minha autoria/responsabilidade assim como me responsabilizo pelo uso das imagens, caso seja aceito para a publicação.
Eu concordo a presente declaração como expressão absoluta da verdade, também me responsabilizo integralmente, em meu nome e de eventuais co-autores, pelo material apresentado.
Atesto o ineditismo do trabalho enviado.
Como Citar
Dados de financiamento
-
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Números do Financiamento 001