Escolas, territórios e afirmação cultural em periferias urbanas no Sul do Brasil

Autores

  • Rodrigo Manoel Dias da Silva Universidade do Vale do Rio dos Sinos

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248246918por

Palavras-chave:

Escolas, Territórios, Periferias urbanas, Educação patrimonial

Resumo

O presente artigo analisa as relações contemporâneas estabelecidas entre escolas e territórios a partir de experiências de atores escolares atuantes em periferias urbanas no Sul do Brasil. Fundamentada na categoria conceitual “experiências urbano-educativas”, inspirada na Sociologia da Experiência, o estudo examina e problematiza referências políticas e lógicas socioculturais presentes na ação pedagógica de professores e professoras que lecionam no Ensino Fundamental em escolas situadas no Rio Grande do Sul. Do ponto de vista metodológico, os dados foram construídos a partir da realização de entrevistas com 66 atores escolares selecionados e complementados pela análise de documentos institucionais. Enquanto resultados, identificam-se três perspectivas analíticas: (a) escolas enquanto territórios de afirmação cultural mediante ações pedagógicas desenvolvidas por docentes atuantes nos anos iniciais da escolarização, os quais mobilizam aprendizagens sobre a história e a geografia dos territórios municipais diante de cenários urbanos marcados por desigualdades, migrações e encontros interculturais; (b) escolas enquanto agentes ativos em processos de patrimonialização cultural, principalmente em contextos urbanos em que não há processo oficial de tombamento, registro ou expediente estatal similar; e (c) a permeabilidade da escola às práticas culturais desenvolvidas nos territórios, destacando-se suas relações com coletivos culturais independentes e associações comunitárias direcionadas à formação político-cultural de estudantes nas periferias urbanas.

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Publicado

2022-10-18

Como Citar

Escolas, territórios e afirmação cultural em periferias urbanas no Sul do Brasil. (2022). Educação E Pesquisa, 48(contínuo), e246918. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248246918por