Nova embalagem, mercadoria antiga

Autores

  • Élie Bajard École des Hautes Études em Sciences Sociales

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1517-97022006000300005

Palavras-chave:

Didáticas, Alfabetização, Sistema gráfico, Sistema alfabético, Compreensão

Resumo

Diante das intervenções institucionais dos promotores do método fônico na aprendizagem da escrita, visando substituí-lo ao caminho promovido pelos Parâmetros Curriculares, o artigo analisa dois textos representativos dessa nova frente: o Relatório entregue à Câmara dos Deputados do Brasil e um texto do Observatoire National de la Lecture (ONL), instituição referenciada no Relatório. Os dois textos analisados, expressando a visão do ONL, definem o ato de ler como uma seqüência de dois processos distintos: uma extração da pronúncia, seguida por uma extração da compreensão. Retomando a visão saussuriana que considera a língua escrita como uma mera representação da língua oral, o ONL vê nos grafemas apenas a tradução dos fonemas e, na leitura, a transposição dos primeiros nos segundos. A especificidade da leitura, para os autores, encontra-se na 'decodificação'. Ao postergar a compreensão para uma segunda etapa, transformam a leitura em uma atividade que, operando fora do significado, deixa de ser um ato de linguagem. A partir dessa visão da escrita, a proposta pedagógica promove conseqüentemente uma abordagem em duas etapas a serem seguidas pela totalidade das crianças, sem considerar a experiência personalizada anterior. No entanto, parcialmente letradas pelo contato com a literatura infanto-juvenil e pela escuta de textos de ficção, nem sempre as crianças começam pela extração da pronúncia, escapando assim ao programa previsto pelo ONL. Esse retorno de uma proposta que apresenta semelhanças com o método da cartilha, com sua seqüência decifração e leitura corrente, não pode constituir uma resposta às necessidades de um país que quer erradicar o analfabetismo funcional.

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Publicado

2006-12-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Nova embalagem, mercadoria antiga . (2006). Educação E Pesquisa, 32(3), 493-507. https://doi.org/10.1590/S1517-97022006000300005