Modos de cuidar e se movimentar: experiências etnográficas entre indígenas, quilombolas e agricultoras familiares
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.205162Palavras-chave:
modos de cuidar, movimento, mulheres, Pankararu, quilombolas, agricultoras familiaresResumo
Com base em etnografias realizadas em diferentes contextos – povo Pankararu em Pernambuco e São Paulo, quilombolas de Alcântara/MA e agricultoras agroecológicas do leste de Minas Gerais –, propomos, neste artigo, que os “modos de cuidar” fazem parte de uma ética de relacionamentos que envolve seres tangíveis – homens, mulheres, plantas e a terra – e seres intangíveis, como os encantados. E, ainda, que há práticas de cuidado relacionadas a “movimentos” que se realizam com intensidades e ritmos variados. Nos contextos trabalhados, os modos de cuidar, enquanto eixo organizador de relações sociais, são protagonizados pelas mulheres, embora não sejam restritos ao universo feminino, e são compreendidos em suas dimensões afetivas e disruptivas. Ao trazer a relação entre “movimento e cuidado”, nosso propósito é contribuir com uma nova perspectiva para os debates que têm sido realizados sobre estes temas.
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