1968 é o alvo do próximo número da Revista Aspas

2018-08-12

Aguda, crônica e acidental: esses foram os três adjetivos utilizados com maior frequência para caracterizar a crise que envolveu o teatro na década de 1960. A despeito de cada diagnóstico, a ideia de que algo parecia desestruturar as formas de produção teatral permanecia operante em todos os casos, na mão dos mais diversos estudiosos. O fortalecimento da indústria cultural, o calculado desligamento entre artistas e público, cuja participação elementar viu-se logo reduzida a uma classe média supostamente esclarecida, e a transformação dos materiais de composição em pura mercadoria pareceram pautar grande parte dos debates daquele período. Do que restou deste imbróglio, a fatia concernente a 1968 parece a mais significativa, como um momento no qual um leque de alternativas se abriu para logo em seguida ser novamente interrompido e bloqueado.

O ano de 2018 marca exatos cinquenta anos desde aquela data na qual, segundo um de nossos críticos, tudo se fez e se desfez. Levando em conta toda a repressão imposta pela ditadura militar brasileira, bem como as formas de desenvolvimento do sistema capitalista, junto ao processo de apagamento de qualquer antagonismo e alternativa social, aqui se busca responder uma questão deixada em aberto por Décio de Almeida Prado: “O que sucedeu, quando e onde se rompeu o fio da meada, por que o nosso caminhar de um momento para outro se desorientou, não possibilitando que os anos mais próximos marcassem um avanço teatral tão decisivo quanto os anteriores?”. Como recuperar a régua e o compasso de um ritmo histórico interrompido e silenciado com o correr dos anos, ainda que em parte sobreviva registrado nas páginas e peças de alguns dramaturgos? Quais alternativas se criaram em relação ao teatro profissional no âmbito universitário, nos cantos da periferia ou nas esquinas das avenidas? Qual o vínculo que se pode estabelecer entre as explosões da Revolução Cultural chinesa, as manifestações de Berkeley, Paris, Praga e os processos brasileiros? Se o ano de 1968 parece marcar o exato término de um ciclo iniciado em 1848, quais resíduos tendem a permanecer dessa trajetória de desmonte?

Em seu texto célebre sobre o período aqui em questão, Roberto Schwarz afirmou que, ao longo das páginas, seus leitores logo perceberiam que o tempo passou e não passou. É com o objetivo de esclarecer e aprofundar este processo, no qual uma mal esboçada revolução logo teve de lidar com bloqueios e imposições, que este próximo número se faz.

Os artigos poderão ser enviados a esta plataforma até o dia 15 de setembro de 2018.