v. 26 n. 1 (2025): As Literaturas de Autoria Afrodescendente no Brasil e em Portugal

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Nos últimos anos, observamos com otimismo um crescimento importante da presença de autores negros no mercado editorial brasileiro, o que, todavia, não apaga os impasses de caráter étnico-racial em uma sociedade marcada por seu racismo estrutural. Já em Portugal, acompanhamos as crescentes tensões sobre a autoria afrodescendente como consequência da luta pela visibilidade desse segmento que desperta espectros históricos que ainda nos atormentam e que condicionam a recepção de determinados textos. Como bem aponta Miguel Vale de Almeida (2022) em relação a seu país, mas que, em grande medida, se aplica também ao Brasil, “A democracia portuguesa não soube descolonizar(-se). Uma demonstração desse insucesso é a perturbadora continuidade da hegemonia da narrativa lusotropicalista. Esta narrativa, largamente disseminada no senso comum, ampara processos de negação do racismo estrutural e institucional.”

A história surge, assim, nesses dois contextos, como elemento fundamental para a compreensão da experiência negra e afrodescendente em toda sua extensão já que, ao ser oficialmente escrita parte de um campo de força ideológico seletivo e que pertence às classes dominantes, está repleta de silenciamentos. Nesse movimento dialético entre história e experiência vivida, a arte ascende como espaço privilegiado de luta e resistência e se revela não só no âmbito da ética e da política, mas também no da estética.

Delimitar a extensão dessa influência deve ser uma das tarefas primeiras de quem se dedica à pesquisa no campo das literaturas de língua portuguesa. Mensurar corretamente o impacto dos fenômenos sócio-históricos no domínio da literatura é uma das mais adequadas e eficazes armas para se combater tanto o predomínio de uma pauta estética estéril, quanto para evitar que a literatura se torne um campo desidratado de sentido social.

Dessa maneira a interlocução proposta entre a Literatura e os campos das Ciências Humanas e Sociais, principalmente o campo da História, configura-se e consolida-se como eficiente estrutura para a análise crítica e a interpretação literária.

Neste número 45 da revista Via Atlântica, acolheremos artigos teórico-críticos inéditos que reflitam sobre a produção de autoria negra e/ou afrodescendente em Portugal e no Brasil que abordem temas associados, tais como: literatura e vida social, literatura e história, literatura e transformação social, literatura e resistência à luz das caraterísticas próprias dos contextos português e brasileiro.

Publicado: 2025-05-22
  • As literaturas de autoria afrodescendente no Brasil e em Portugal

    1-12
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.230149

Outros Textos

  • Representações da África colonial no panorama: Revista Portuguesa de Arte e Turismo (1941-1944)

    Luis Antônio Contatori Romano
    490-521
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.216155
  • Lisboa afropolita: geografias emergentes do cosmopolitismo afrodescendente

    Fernando Beleza
    522-561
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.219853
  • A produção moçambicana do neorrealista Afonso Ribeiro: África Colonial (1975)

    Ubiratã Souza, Elídio Nhamona
    562-605
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.228496
  • As Exiladas de Alberto Osório de Castro: o orientalismo e a pluralidade das linguagens da modernidade

    Duarte Drumond Braga
    606-643
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n.1.2025.223705
  • Ressurreição e Dom Casmurro: o narrador onisciente e o autor ficcional

    Luiza Helena Damiani Aguilar
    644-673
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.214760

Dossiê 45: As Literaturas de autoria afrodescendente no Brasil e em Portugal

  • A memória em espiral: o projeto poético de Salgado Maranhão

    Paulo César Andrade da Silva
    13-46
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.26.n.1.2025.209347
  • Vozes femininas na poesia afro-brasileira dos Cadernos Negros

    Joyce Silva Fernandes
    47-81
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.209609
  • Escrevivências de (auto)amor na poesia de autoria negra dissidente em gênero e sexualidade

    Pedro Ivo Silva, Luciana Borges
    82-111
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.208900
  • Deixando os nossos cabelos em paz: negritude, escrevivência e pensamento feminista negro na poesia de Cristiane Sobral

    Shaianna da Costa Araújo, Algemira de Macêdo Mendes
    112-145
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.208899
  • “A senhora disse-me que não ia mais comer as coisas do lixo”: a escrita inquietante como ferramenta de resistência e transformação social no testemunho da fome de Carolina Maria de Jesus

    Danielly Cristina Pereira Vieira, Daniela Forcioni Turba dos Santos
    146-177
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.208268
  • A “visão” ética nos Contos de Cidadezinha, de Ruth Guimarães

    Robson Batista dos Santos Hasmann
    178-205
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.206339
  • Vozes negras importam: rememoração e poética da escrita política em Torto Arado

    Elisabete Alfeld
    206-238
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.210125
  • Literatura afrodescendente: uma leitura de Solitária à luz de Sueli Carneiro e de Grada Kilomba

    Talita Rosetti Souza Mendes, Karine Aragão dos Santos Freitas
    239-272
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.209112
  • Rizomas nos oceanos amefricanos: uma leitura de Afuera Crece un Mundo (Adelaida Fernández) E Um Defeito de Cor (Ana Maria Gonçalves)

    Juana Maricel Sañudo Caicedo
    273-336
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.208948
  • Fronteiras perdidas: desafios aos pressupostos (ainda) filológicos dos estudos da cultura pelas diásporas negras em Portugal e na Alemanha

    Catarina Martins
    337-367
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.207008
  • O que fazer com o passado colonial? Uma reflexão sobre A visão das plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida

    Cristina Arena Forli, Gustavo Henrique Rückert
    368-395
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.210087
  • Literatura portuguesa de autoria afrodescendente: três vozes literárias no contexto da Black Europe – Djaimilia Almeida, Yara Monteiro e Telma Tvon

    Liz Maria Teles de Sa Almeida
    396-432
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.214770
  • Lisboa e a portugalidade: contranarrativas em obras de Orlanda Amarílis e Djaimilia Pereira de Almeida

    Daniela Schrickte Stoll
    433-460
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.2025.209845
  • Em busca da mãe África: identidade e memória no romance Essa Dama Bate Bué, de Yara Nakahanda Monteiro

    Rafaella Cristina Alves Teotônio
    461-489
    DOI: https://doi.org/10.11606/va.v26.n1.210059