O pivô geográfico da história
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2011.74189Keywords:
Geografia, GeopolíticaAbstract
Quando historiadores no futuro remoto vierem a olhar novamente sobre o grupo de séculos pelos quais estamos passando agora, e enxergando-nos em perspectiva, como hoje vemos as dinastias egípcias, pode muito bem ser que descrevam os últimos 400 anos como a época Colombina e digam que ela acabou logo após o ano 1900. Ultimamente, tem sido lugar comum falar sobre a exploração geográfica como quase encerrada, e se reconhece que a geografia deva ser direcionada para o propósito da investigação intensiva e da síntese filosófica. Em 400 anos o contorno do mapa do mundo foi completado com aproximada precisão, e mesmo nas regiões polares as viagens de Nansen e de Scott reduziram muitíssimo a última possibilidade de descobertas dramáticas. Mas a abertura do vigésimo século é tomada como o fim de uma grande época histórica, não apenas em decorrência desse feito, por mais importante que possa ser. O missionário, o conquistador, o fazendeiro, o mineiro e, recentemente, o engenheiro, seguiram tão de perto os passos dos viajantes que o mundo, nas suas fronteiras mais remotas, mal fora descoberto quando já podemos fazer a crônica de sua apropriação política virtualmente completa. Na Europa, América do Norte, América do Sul, África e Australásia, mal restou alguma região para ser alvo de reivindicação de propriedade, exceto como resultado de uma guerra entre poderes civilizados e semicivilizados. Mesmo na Ásia, estamos provavelmente presenciando os últimos movimentos do jogo iniciado pelos cavaleiros de Yermak, o Cossaco, e pelos marinheiros de Vasco da Gama. Genericamente falando, podemos contrastar a época Colombina com a idade que a precedeu ao descrever as características essenciais da primeira como a expansão da Europa contra resistências quase insignificantes, enquanto a Cristandade medieval estava encurralada em uma região estreita e ameaçada pelo barbarismo externo. De hoje em diante, na idade pós-Colombina, devemos novamente ter de lidar com um sistema político fechado, e no entanto será um de escopo mundial. Toda explosão de forças sociais, no lugar de ser dissipada em um circuito ao redor, de espaço desconhecido e caos bárbaro, será fortemente reecoada desde as longínquas partes do globo, e por isso os fracos elementos no organismo político e econômico do mundo serão em consequência destroçados. Há uma ampla diferença do efeito causado pela queda de uma granada em uma terraplanagem e sua queda em meio aos espaços fechados e às rígidas estruturas de uma grande construção ou embarcação. Provavelmente alguma semiconsciência desse fato é que está finalmente desviando grande parte da atenção de estadistas em todas as partes do mundo da expansão territorial para a luta pela relativa eficiência.
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